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Casa em SP conta a história do morador e abriga sua coleção de arte

Em São Paulo, esta propriedade guarda as preciosidades reunidas por um diplomata durante seu tempo de trabalho no Oriente

Por Reportagem Visual: Olivia Canato | Texto: Helena Tarozzo
Atualizado em 16 abr 2024, 11h32 - Publicado em 9 jun 2018, 10h00
Em São Paulo, esta propriedade guarda as preciosidades reunidas por um diplomata durante seu tempo de trabalho no Oriente
Na parede, esculturas budistas e hindus de diferentes períodos. As poltronas do fundo são do Liceu de Artes e Ofícios, a da frente, dos irmãos Campana, e a mesa de centro, de Giuseppe Scapinelli.  (Evelyn Müller/Revista CASA CLAUDIA)
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Na parede, esculturas budistas e hindus de diferentes períodos. As poltronas do fundo são do Liceu de Artes e Ofícios, a da frente, dos irmãos Campana, e a mesa de centro, de Giuseppe Scapinelli. (Evelyn Müller/Revista CASA CLAUDIA)

Não é exagero dizer que faltariam páginas no livro As Mil e Uma Noites para que Sherazade pudesse contar a trajetória de cada uma das 3 mil peças que o diplomata Fausto Godoy possui em sua coleção de arte asiática.

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No living, sofá e poltronas Beto, de Sergio Rodrigues, acompanham o banco de Joaquim Tenreiro e as obras de Amilcar de Castro, Amélia Toledo e Rosangela Rennó. (Evelyn Müller/Revista CASA CLAUDIA)

Foram mais de 20 anos entre Índia, China, Paquistão, Cazaquistão, Myanmar, Vietnã, Jordânia e Japão, servindo como embaixador ou cônsul brasileiro, época em que acumulou artefatos vindos desde a Ásia Central ao Extremo Oriente, do período neolítico aos dias de hoje.

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Fausto Godoy em sua poltrona Mole, de Sergio Rodrigues. Ao fundo, escultura de Rubem Valentim e tela de Amélia Toledo. (Evelyn Müller/Revista CASA CLAUDIA)

A cada viagem de volta a Brasília, ele aproveitava para despachar esculturas, objetos cotidianos, móveis e vestimentas ancestrais em contêineres – as peças hoje compõem a maior coleção de arte oriental do Brasil. No mês passado, o acervo teve seu début público no Museu Oscar Niemeyer (MON), em Curitiba, para o qual Fausto doou a maior parte de suas obras.

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Gravura de laca e escultura de Buda trazidas do Myanmar e tansu (cômoda) japonês da era Meiji. (Evelyn Müller/Revista CASA CLAUDIA)

Após anos tentando achar uma casa que não fosse a sua para abrigar tantas peças raras (algumas com mais de 5 mil anos), o diplomata finalmente viu o que mais queria: sua coleção tomando vida própria. “Desde o início da minha carreira na Índia, em 1984, quando comprei minha primeira escultura em Nova Déli, percebi que isso poderia ser uma contribuição ao meu alcance. Conhecemos muito pouco sobre o Oriente por aqui, o que precisa ser mudado”, afirma.

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Adereço de teca feito sob medida para a porta da entrada por artesãos do Myanmar. (Evelyn Müller/Revista CASA CLAUDIA)

As peças, segundo ele, carregam também um grande valor afetivo porque contam sua trajetória pessoal. “Vivi muito tempo longe da minha família, com os amigos espalhados pelo mundo e sempre mudando de casa. Por meio delas, lembro das coisas boas que vivi”, diz.

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Entre as poltronas Vronka, de Sergio Rodrigues, um hsun ok, artefato do Myanmar utilizado para levar comida aos monges. Ao fundo, tapeçaria comprada de beduínos da comunidade turcomana. (Evelyn Müller/Revista CASA CLAUDIA)

Afinal, seus garimpos trazem recordações dos lugares exóticos nos quais esteve – das tradicionais feiras de antiguidades na rua às tendas beduínas no meio do deserto – e de pessoas que conheceu em missões diplomáticas e a passeio.

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Cadeiras e mesa modernistas sem autoria. Bufê de Zanini de Zanine e tela de Paulo Pasta. Cavalos chineses da dinastia Tang. (Evelyn Müller/Revista CASA CLAUDIA)

Numa de suas andanças em busca de raridades, enquanto fazia a rota de Alexandre, o Grande, pelo Paquistão, acompanhado de uma amiga sueca, Fausto foi parar sem querer no meio de uma aldeia talibã ao entrar numa portinha que dizia “Museu”.

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Obras da artista Amélia Toledo, de quem Fausto comprou a casa, estão por todo lado, como esta, aplicada em parte do muro. (Evelyn Müller/Revista CASA CLAUDIA)

De fato, eles encontraram obras de arte lá dentro, mas não só. “Provavelmente, era um lugar perigoso para dois estrangeiros, mas o máximo que aconteceu foi sermos convidados para tomar um chá. Claro que, assim que nos demos conta de onde estávamos, com todos os homens em volta usando turbantes pretos, saímos o mais rápido possível”, lembra.

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No jardim ao lado da sala, luminária japonesa, da era Meiji, sobre banco com pés de concreto. (Evelyn Müller/Revista CASA CLAUDIA)

De volta ao Brasil em 2015, quando se aposentou dos serviços diplomáticos, ele trouxe, além dos tesouros do Oriente, seus móveis brasileiros, que o acompanharam nas residências oficiais. Eles deram forma à decoração da nova casa, ao lado de obras da amiga Amélia Toledo, antiga moradora do sobrado, que deixou detalhes únicos, como um rodapé cravejado de pedras brasileiras e o chão azul da sala de jantar.

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O guarda-sol foi trazido do Myanmar. Poltronas de Harry Bertoia. (Evelyn Müller/Revista CASA CLAUDIA)

“Distribuí as peças de modo que, de um lado da sala, você vê só artefatos asiáticos e do outro brasileiros.” Esse encontro de culturas segue pelos demais espaços, com cadeiras da dinastia Ming e budas de variados séculos fazendo companhia para a arte naïf brasileira de mestre Galdino.

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Esta casinha de ferro representa um pequeno templo usado pelos japoneses para honrar o espírito de seus antepassados. (Evelyn Müller/Revista CASA CLAUDIA)

A mistura, afinal, é o que melhor representa a identidade plural do dono da casa. “Minha impressão ao chegar pela primeira vez à Índia foi que eu deveria deixar para trás minhas verdades absolutas e me tornar um livro em branco, aberto para o desconhecido e para as possibilidades religiosas e filosóficas que estavam diante de mim.” Ao que parece, ele soube preencher bem cada linha.

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(Divulgação/CASA CLAUDIA)
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