Apê de 150 m² com decoração moderna e elementos brutalistas
Este apartamento combina o modernismo dos anos 1960 com um décor bem atual, em que o contraste de materiais define o projeto
Ao escavar a parede onde encaixaria um nicho revestido de pau-ferro, a arquiteta Flávia Cardim teve uma surpresa: topou com dois pilares de concreto e um cano de tubulação. Mas o que poderia ser um entrave enorme na obra acabou virando um dos grandes charmes deste apartamento de 150 metros quadrados na Rua da Consolação, em São Paulo: a ideia do nicho foi mantida, e os pilares e o cano, incorporados a ele.
“Gosto muito desse mix high-low, de usar um material delicado e elegante, como a madeira, em contraste com uma superfície bruta”, diz Flávia. A oposição de estilos não parou por aí – foi explorada também em outros pontos do projeto, que trouxe um olhar contemporâneo sobre referências modernistas.
A mesa de jantar, desenhada pela arquiteta, juntou tampo de mármore de carrara a uma base de aço inox escovado. Na sala, uma bancada de pau-ferro com formas orgânicas abraça uma viga de concreto aparente. A mistura também dá as caras na cozinha com piso de granilite, bancada de concreto armado e marcenaria ripada.
Nesse ambiente, integrado ao living, chama a atenção a escolha pela madeira ebanizada – como entra muita claridade pelas amplas janelas do apartamento, localizado no 15º andar de um prédio dos anos 1960, o preto pôde ser usado sem pesar.
As aberturas generosas, por sinal, foram um fator decisivo na compra do apê. “Sempre gostei de imóveis antigos e, quando vi os janelões, me apaixonei”, diz a moradora, Luciana Costa. Com a reforma, a luz natural acabou potencializada, já que a parede de um dos três quartos foi derrubada e o espaço virou uma sala de TV aberta.
A cozinha também teve a divisória posta abaixo e se juntou ao living. Outra mudança na estrutura foi em relação aos banheiros: na planta original, os dois se abriam para o corredor e agora um deles se uniu ao quarto principal, transformado em suíte. Nem tudo, porém, mudou por aqui – a arquiteta e os proprietários fizeram questão de preservar alguns traços do estilo sessentinha, como uma parede curva, que ganhou um sofá acompanhando seu desenho, e o piso de tacos.
Luciana quis ainda recuperar outro detalhe súper em alta algumas décadas atrás: na sala de estar, os móveis estão posicionados de um jeito que favorece o bate-papo. “Quando as televisões eram mais raras, um sofá ficava de frente para outro. Não eram todos voltados para a TV, como hoje. Eu lembro de ver essa disposição na casa da minha avó, da minha tia. Acho importante ter um ambiente em que as pessoas olham umas para as outras.” Detalhe menos palpável, mas da maior relevância.