Acervo em movimento renova o décor desta casa em SP
Nesta casa, no interior de São Paulo, as obras de arte estão sempre mudando de lugar – não sem antes deixar sua marca por onde passam
A casa dos colecionadores Dulce e João Carlos de Figueiredo Ferraz, em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, é um desses lugares onde a arte fala pelo todo. Dulce é decoradora e dona de uma loja de mobiliário repleta de achados vindos do Oriente, e João, o atual presidente da Fundação Bienal de São Paulo. Juntos há 39 anos, os dois gostam de rodar o mundo em busca de novidades para a loja e de obras para a coleção de arte contemporânea, que conta com mais de mil peças.
Dessa mistura de referências, surge uma casa onde nenhuma parede fica vazia e não há cantinho que não ganhe ao menos um quadro ou uma escultura. “Trabalho com isso, então me sinto muito à vontade para montar o lugar onde moro, ainda mais com tanta coisa linda por perto. Acaba sendo um exercício conjunto nosso, pensado para deixar a arte em evidência”, conta Dulce.
Atualmente, apenas uma parte das obras (a que tem as peças mais queridas) preenche os espaços da casa. A outra compõe o acervo do Instituto Figueiredo Ferraz (IFF), inaugurado em 2011, em que acontecem exposições abertas ao público.
“Tudo começou numa época em que artistas, hoje já consagrados, iniciavam a carreira. Nós éramos jovens entusiastas, e eles, jovens criadores”, diz João. A primeira obra foi uma tela de Jorge Guinle, vinda de uma exposição na Galeria Luisa Strina. Depois, chegaram trabalhos de artistas como Iole de Freitas, Cildo Meireles, Luis Paulo Baravelli, Paulo Pasta e Leda Catunda.
“Nossos filhos cresceram brincando de esconde-esconde num véu do Waltercio Caldas e, de vez em quando, eu percebia que tinham penteado uma cabeleira do Tunga”, lembra Dulce. “Antigamente, não era habitual ter obras não figurativas no meio da sala. As visitas achavam esquisito. Era bem engraçado.”
Com a abertura do IFF, trabalhos que fazem mais sentido num espaço expositivo próprio foram levadas para lá, enquanto no sobrado, para o qual eles se mudaram cinco anos atrás, ficaram aquelas de que gostam mais.
Algumas delas, inclusive, foram posicionadas na mesma configuração em que estavam na casa onde moravam antes, tamanha a afinidade que Dulce e João têm com elas. “Às vezes, emprestamos obras para mostras em museus e é impressionante como sentimos falta, pois elas tomam conta do ambiente. Sempre substituímos temporariamente por outras, mas esperando que as que foram voltem logo”, explica João.
Aliás, colocar as peças no lugar sempre foi uma grande diversão para os dois, que costumam abrir uma garrafa de vinho e brincar de quebra-cabeça para escolher o que cabe melhor em cada espaço em branco – que já não são muitos.