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A ceramista japonesa Shoko Suzuki e peças feitas em forno medieval

A história da ceramista que carregou a tradição medieval do forno noborigama do Japão para o Brasil nos anos 1960, atraída por imagens de TV da recém-inaugurada Brasília.

Por Reportagem Ana Weiss I Fotos Romulo Fialdini
Atualizado em 9 abr 2024, 11h48 - Publicado em 20 nov 2012, 19h38
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*Matéria publicada em Casa Claudia Luxo #31 – Novembro e Dezembro de 2012

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Num dos ataques que entre 1944 e 1945 destruíram quase a metade de Tóquio, a menina Shoko foi salva sob uma colcha de um incêndio que transformou em escombros a aldeia onde morava. “Minha madrasta me cobriu e lembro que deixei minha casa sem enxergar quase nada.” Levada a uma morada próxima, onde dividiu o chão com dezenas de pessoas desabrigadas pelo bombardeio, a pequena órfã de mãe esperou o Sol nascer para ver o que tinha restado de sua casa. Nada – nenhuma das crianças vizinhas, inclusive, estava mais lá. Mas a menina não chegou a olhar os escombros do lugar onde cresceu. “No caminho vi um homem desenterrando objetos que devia ter escondido para proteger das bombas.

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Tive uma sensação de vida tão boa no meio daquela morte toda. Era cerâmica que aquele senhor tirava de dentro da terra.” Shoko Suzuki, hoje com 83 anos – e 60 de trajetória no próximo ano –, nunca mais tirou as mãos da terra. Finda a guerra, casada e então uma aprendiz dedicada ao ofício, decidiu que faria sua carreira no Brasil.

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“Vi uma imagem da Brasília de Niemeyer sendo inaugurada e tive certeza que o Brasil era o meu lugar.” Em Cotia, SP, desde então, uma das poucas herdeiras da técnica de queima a fogo noborigama é considerada por estudiosos e críticos – a exemplo de João Frayze-Pereira e Jacob Klintowitz – como um dos maiores brilhos da arte contemporânea brasileira. “Não concordo que eu seja artista. Sou uma ceramista e amo o meu trabalho.”

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O grande forno composto de câmaras, o noborigama construído por ela mesma tijolo por tijolo, como costuma dizer, ocupa um espaço importante no quintal onde viveu até sete anos atrás com o marido, o pintor Yukio Suzuki. O antigo sítio, hoje cercado de endereços comerciais, está à venda. Como quem cumpre um ciclo, Shoko não se entristece ao pensar em desmontar o equipamento que fez viver a arte da queima a lenha entre ceramistas brasileiros. “Estou querendo desmontálo.

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Foram muitos anos de serviço”, diz sorrindo a artista de dentro de sua modéstia atávica – ciente da beleza da ciência que trouxe para seu quintal. “Foi uma sorte ter encontrado quem ensinasse a construir as ferramentas para fazer o meu trabalho, ter sido tão bem recebida num país onde eu não conhecia as pessoas e a língua e ver hoje meu trabalho em publicações tão elegantes”, fala. “Farei uma abertura de forno provavelmente em dezembro e no ano que vem estou torcendo muito para que os amigos que estejam trabalhando em meu livro possam publicá- lo. Mas depois será outra vida, pois agora me sinto cada vez mais leve como uma criança. Me sinto perto de voar.”

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*Matéria publicada em Casa Claudia Luxo #31 – Novembro e Dezembro de 2012

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