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Por que as empresas têm poucas mulheres nos cargos mais altos?

As mulheres são maioria entre a população com diploma universitário, mas poucas alcançam altos cargos nas empresas. Veja o que algumas mulheres que chegaram lá pensam sobre essa desigualdade e sobre a ideia de implantar cotas para elas nas empresas

Por Redação M de Mulher
Atualizado em 15 jan 2020, 21h27 - Publicado em 1 jul 2013, 21h00
Reportagem: Mariana Bomfim (/)
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Dentre as 250 maiores empresas brasileiras, apenas 9 mulheres são CEOs
Foto: Getty Images

Quando Danisa Baloyi foi convidada para assumir um cargo executivo pela primeira vez, apresentou uma condição: quando chegasse a hora de sair, a substituta deveria ser outra mulher. Hoje diretora executiva do National Black Business Caucus, na África do sul, ela explica que pediu essa garantia porque acredita na colaboração entre as mulheres para que elas conquistem seu espaço nas empresas. “Se não pressionarmos, vamos continuar onde estamos”, defende.

Ainda que os índices melhorem a cada ano, Danisa está certa em assumir que “onde estamos” está muito longe de onde podemos chegar. Tomando como exemplo o Brasil, vemos que a proporção de mulheres com diploma universitário é maior que a de homens desde 1985 – elas representam 58% das pessoas com diploma nas mãos, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), de 2011. E elas são maioria inclusive nas carreiras que costumam formar executivas, como Administração (51%) e Direito (52%). No entanto, um levantamento do jornal Valor Econômico mostrou que apenas 4% dos principais executivos nas 250 maiores empresas brasileiras são mulheres. No caso do cargo de CEO (Chief Executive Officer), elas são somente nove.

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Sandra Guerra, presidente do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), acredita que se uma mulher for a única no conselho é como se ela fosse invisível. A executiva conta que já esteve nessa situação e, ao apresentar uma discussão, foi ignorada. “Dois meses depois o assunto voltou à pauta e um dos meus pares levantou exatamente a mesma discussão. Todos a acharam fantástica”.

Para piorar, o ritmo de avanço das mulheres nesse mercado está diminuindo, segundo a executiva da Bain & Company e consultora de gestão operacional Denise Damiani. “Estou na jornada há quase 15 anos e, conforme o tempo passa, a estagnação acontece”, ela afirma.

A polêmica das cotas

Uma proposta que sempre desponta quando se trata de acelerar esse ritmo é a criação de uma lei que estabeleça cotas para mulheres nas empresas. Controversa em todo país onde a sua adoção é discutida, as cotas existem na Noruega desde 2003, quando uma lei determinou que pelo menos 40% do conselho executivo das empresas públicas e privadas de capital aberto deve ser composto por mulheres. Na época, essa proporção não passava de 7%. Nos anos seguintes, outros países europeus, como França, Bélgica, Holanda, Itália e Islândia, aprovaram políticas semelhantes.

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No Brasil, um projeto de lei que define percentual mínimo de 40% para a participação de mulheres nos conselhos de administração das empresas públicas e sociedades de economia mista tramita na Câmara dos Deputados desde 2010. Assim como na Noruega no início dos anos 2000, aqui a ideia gera preocupação com a falta de mulheres qualificadas para preencher as vagas e com a criação de profissionais de segunda classe. “Você vai criar conselheiros café-com-leite e o preconceito vai ser ainda maior”, acredita Sandra. “Não precisamos do governo para subir. Precisamos chegar lá de maneira que sejamos respeitadas pelas nossas competências”, acrescenta. Ela propõe que a igualdade seja buscada por meio de outros mecanismos, como a adoção, pelas empresas, de uma política de diversidade que inclua o gênero.

Béatrice Fasquel Padovese, membro do conselho executivo da Nestlé e responsável pelo negócio de culinária da empresa no Brasil, também não vê nas cotas a saída para a desigualdade. “As cotas comprometem a credibilidade da mulher”, afirma. A política mais adequada, na opinião dela, é de iniciativa institucional. As empresas precisariam promover a igualdade já no recrutamento de talentos e mantê-la com medidas de retenção de mulheres, como a licença-maternidade de seis meses, flexibilidade de horários e home office.

Sponsoring

Na África do Sul, onde a participação das mulheres na política, sobretudo em cargos legislativos, é garantida por cotas, o governo estuda apresentar um projeto de lei para reservar metade das vagas nos conselhos executivos para as mulheres. Nos últimos cinco anos, a presença feminina nesses cargos se manteve a mesma (28%), de acordo com a pesquisa Grant Thornton International Business Report. Danisa evoca esse cenário para justificar seu apoio à política de cotas. “No meu país, as mulheres e os homens frequentaram as mesmas escolas, as mesmas faculdades, fizeram os mesmos MBA’s [Master of Business Administration, uma pós-graduação em negócios]. Então por que elas não chegaram tão longe quanto eles?”. Parte da resposta, para a sul-africana, está no fato de os homens recomendarem e apoiarem outros homens e as mulheres não terem o mesmo comportamento. A própria Danisa encorajou essa postura ao menos uma vez na carreira, quando garantiu que seu cargo executivo seria passado para outra mulher. “Precisamos passar do mentoring para o sponsoring. Quer dizer, não só indicar outras mulheres, mas também lutar por elas. Os homens fazem isso a vida inteira e nós não”, concorda Denise.

A discussão sobre as cotas para mulheres aconteceu durante o Women’s Forum Brazil 2013, em São Paulo, com mediação da diretora de redação da revista Claudia, Paula Mageste.

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