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Maria Sharapova e a reflexão sobre como se reinventar após a aposentadoria

Preparando-se para uma nova fase, a tenista dá adeus ao esporte e fala sobre os desafios desse momento de ruptura

Por Colaborou: Gabriela Teixeira
28 fev 2020, 18h13
Maria Sharapova
 (Adam Lacy/Icon Sportswire/Getty Images)
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“Tênis – estou dizendo adeus”, anunciou Maria Sharapova em ensaio publicado pela Vanity Fair nesta quarta-feira (26), surpreendendo até mesmo aqueles que não são fãs do esporte. Aos 32 anos, a multicampeã russa decidiu que é chegado o momento de dar adeus às quadras.

“Como você deixa para trás a única vida que conhece? Como você se afasta das quadras em que treinou desde que era uma garotinha, do jogo que você ama – que trouxe tantas lágrimas e alegrias incontáveis –, um esporte onde encontrou uma família e fãs que lhe acompanharam por mais de 28 anos?”, escreveu a tenista. O tom incerto é natural para alguém que se dedicou por tanto tempo e com tamanho empenho a algo de que agora se despede.

Sharapova começou a brilhar cedo no tênis, passando a jogar profissionalmente aos 14. Três anos depois, desbancou ninguém menos que Serena Willians, conquistando uma vitória impressionante em Wimbledon. “Eu era uma ingênua adolescente de 17 anos, ainda colecionando selos, e não entendi a magnitude de minha vitória até estar mais velha”, contou. De lá para cá, venceu cinco Grand Slams (os torneios mais importantes do tênis) e ganhou prata nas Olimpíadas de Londres, em 2012.

Mas sua trajetória como uma das maiores tenistas do mundo não é feita apenas de glórias. Em 2016, a atleta foi pega em um exame de dopping pelo uso de Meldonium, substância presente em medicamentos para doenças cardíacas e pulmonares que é capaz de proporcionar aumento de performance – o que torna seu consumo proibido por federações esportistas. Alegando não estar ciente da proibição, instaurada no começo do mesmo ano, Sharapova foi a princípio suspensa de competições por dois anos, mas entrou com recurso e conseguiu reduzir a pena para 15 meses.

Foram as lesões, porém, que mais pesaram na tomada de decisão. A primeira veio em 2007, no ombro direito, e a deixou fora das quadras por dois meses. A 13ª e mais recente, também no mesmo ombro, a afastou pelo dobro do tempo. Suas pernas e braços também sofreram danos ao longo desses anos.

Aos poucos, os machucados passaram a representar para Sharapova um sinal de que talvez fosse hora de diminuir o ritmo. “Um deles veio em agosto passado, no Aberto dos Estados Unidos. Nos bastidores, trinta minutos antes de entrar na quadra, eu passei por um procedimento para entorpecer meu ombro para enfrentar a partida. Lesões no ombro não são novidade para mim – com o tempo, meus tendões se desgastaram como cordas. […] Compartilho isso não para que sintam pena, mas para pintar minha nova realidade: meu corpo se tornou uma distração.”

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Prestes a embarcar no que chama de um novo capítulo, a atleta reconhece que sentirá falta da rotina que manteve até aqui e das pessoas com quem a dividiu. “Olhando para trás agora, percebo que o tênis foi minha montanha. Meu caminho foi cheio de vales e desvios, mas a vista do topo foi incrível. Depois de 28 anos e cinco títulos Grand Slam, estou pronta para escalar outra montanha – para competir em um tipo diferente de terreno.”

Ela também anseia por simplicidade, aguardando pelos momentos que poderá passar com a família, fazer os exercícios que realmente desejar, ou apenas aproveitar uma xícara de café pela manhã. “O tênis me mostrou o mundo – e me mostrou do que eu sou feita. Foi como eu me coloquei à prova e mensurei meu crescimento. Então, o que quer eu escolha para meu próximo capítulo, minha próxima montanha, continuarei escalando, continuarei crescendo”, finalizou.

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Recomeços

A realidade de Maria Sharapova está longe de ser a mesma da maioria das mulheres. Ainda assim, as preocupações dela sobre o que está por vir ilustram um sentimento comum a qualquer pessoa que encerra um longo ciclo. Para quem se vê subitamente prestes a iniciar uma nova jornada, a psicóloga Fátima Martins indica, acima de tudo autoconhecimento.

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“Precisamos começar olhando para nós mesmas”, aponta a especialista em inteligência emocional e neurociência. “De repente você se vê aposentada, olha o mundo e vê que tudo está acelerado enquanto você está parada. É preciso ter novos objetivos e, principalmente, a capacidade de entender que poderá fazer parte de tudo isso novamente.”

E se, mesmo após a aposentadoria, ainda existir o desejo de manter alguma ocupação, ela deixa claro que disposição é apenas um dos requisitos. “Mudanças de carreira exigem planejamento financeiro, pois será preciso se capacitar para novos desafios. A depender da escolha, há inúmeros cursos gratuitos ou com baixo custo.” Também é preciso atenção às novas possibilidades e demandas do mercado e ter uma postura aberta a críticas. “Existem muitas formas de se fazer a mesma coisa. Ser flexível demonstra a sua adaptabilidade.”

Por fim, a especialista ressalta que o tempo não é um inimigo. “Não existe idade certa para recomeçar, o mais importante é se sentir inserida no mercado que escolher. Há muito o que aprender com os jovens também”, finaliza.

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