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Home office para sempre, sim ou não?

Profissionais apontam quais são os pontos de atenção para esse modelo de trabalho total

Por Ana Carolina Pinheiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 30 jun 2021, 15h45 - Publicado em 21 Maio 2020, 20h44

Se pudesse escolher entre trabalhar apenas na empresa ou de casa, qual seria a sua resposta? Alguns funcionários da rede social Twitter receberam essa pergunta na semana passada por meio de um comunicado interno assinado pelo CEO da empresa, Jack Dorsey. Enquanto boa parte do mercado de trabalho ainda estuda como será o retorno às atividades depois da pandemia, a rede do famoso passarinho azul ousou ao dar essa opção para alguns de seus profissionais.

Segundo uma pesquisa da consultoria Betania Tanure Associados (BTA), em março, 43% das empresas no Brasil adotaram o home office por conta da pandemia do novo coronavírus. Entre as 358 empresas analisadas, mais de 60% identificaram que a “adaptação das atividades presenciais para virtuais” é o maior desafio do home office e 45% consideraram a maior dificuldade o “gerenciamento remoto de pessoas”.

Por falta de planejamento e tempo, os equipamentos de trabalho, como computadores, por exemplo, foram levados para as casas dos funcionários de um modo improvisado. Em algumas empresas, o item precisou ser até comprado às presas. E do outro lado também houve investimento, afinal, para garantir acesso ao e-mail, participação em reuniões por chamada de vídeo, entre outras demandas profissionais, a internet também acaba sendo bancada pelo próprio funcionário.

Mesmo assim, Luiza Assis, analista de treinamento de vendas, enxerga o home office com benefícios consideráveis. “Para quem mora em uma cidade com tanto trânsito como São Paulo, o tempo que se perde na locomoção do trabalho para casa é desgastante. Não tem preço acabar o trabalho e já poder tomar banho, por exemplo”, explica. Por outro lado, a relação interpessoal pesa. “A falta de contato com as colegas de trabalho também me impediria de fazer a escolha do home office total. Preferiria no máximo três vezes por semana”, diz a profissional, que ainda não sabe qual será a decisão da empresa quando a pandemia acabar

Não é de hoje que o modelo de home office, principalmente em alguns dias da semana, já é implementada por algumas empresas. Eliani Miranda, assistente social e gerente de operações da Social Consultoria, explica que a transição para o sistema integral já era uma tendência nas multinacionais, mas que foi acelerada por conta da pandemia. “Algumas já começaram a colocar como opção, porque de fato a produtividade tende a aumentar dentro de casa para quem tem um perfil favorável ao modelo, como comportamento, condições familiares e estrutura no domicilio. Mas a questão é: elas entregam resultados, mas a custo do que? E a saúde mental ”, questiona.

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Para Neuzi Barbarani, psicóloga e professora do curso de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), a proposta de viver um eterno home office não é das melhores. “Diria que é uma armadilha, tanto para a empresa quanto para o profissional. Apesar de às vezes gerar conflitos, o contato com seus colegas é necessário ao profissional, pois é no contato com o outro que ele poderá fazer trocas significativas, tanto em termos afetivos quanto de estratégias de ação, de aprendizagem com seus pares”, aponta a especialista.

Em termos de contrato, Eliani alerta que o modelo de trabalho também precisa ser registrado pela empresa. “É importante que isso esteja explicito que o home office passa a ser uma opção. Se não estiver no contrato em si, a empresa terá que fazer um aditivo contratual para fazer esse acerto”, considera a gerente, que também ressalta a importância da decisão ser compartilhada entre ambas as partes, e não só sob a responsabilidade do colaborador.

O benefício financeiro obtido pela empresa que conta com seu profissional exclusivamente no home office tende a sofrer um efeito rebote posteriormente, segundo a psicóloga. “O contato com os pares é essencial para que haja o reconhecimento de suas habilidades. Geralmente a gestão reconhece o resultado, mas isso não é suficiente, é necessário reconhecer o que os franceses chamam de savoir faire, em tradução literal, o saber fazer. É este reconhecimento que vai criar o sentimento de pertencimento na categoria de ‘bom profissional’, e isso é muito prazeroso para o trabalhador. Caso contrário, ele poderá se desmotivar e até adoecer”, alerta Neuzi.

O tornar apto ou não para o trabalho em casa vai além do desejo, seja da empresa ou do funcionário. A assistente social explica que um conjunto de fatores precisa ser analisado. O perfil do funcionário também deve ser levado em consideração, por exemplo, posso ter um profissional muito bom, mas que o estilo dele não se adequa ao home office”, comenta a gerente, que escutou de alguns diretos que o modelo aumenta a sensação de solidão em relação ao trabalho.

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Outro ponto que as duas profissionais comentaram é o ambiente familiar, que em algumas configurações podem entrar em conflito. “O trabalho geralmente exige concentração, disciplina e, quando uma mãe ou um pai estão em casa, os filhos podem demandar mais atenção, interrompendo o processo e reduzindo o rendimento. Com isso, a circunstância faz com que a pessoa trabalhe em dobro”, afirma Neuzi.

Mesmo dentro da empresa, encaixar as demandas do trabalho no horário acordado é cada vez mais desafiador. Mas a psicóloga alerta que no home office é ainda mais difícil de controlar. “Quando o local de trabalho é a casa, esses limites ficam ainda mais permeáveis. Sabemos que não são todas as empresas que fazem uma gestão adequada disso, pois o correto seria que os contatos a respeito de trabalho ocorressem só nos horários determinados, quando isso não ocorre, a sensação é de que o trabalho não termina”, considera.

Em tempos de isolamento, não se cobre tanto a ser produtiva:

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