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Como perceber que você corre o risco de demissão

Prestar atenção no que acontece à sua volta pode ajudar a traçar um plano de ação para que não seja preciso devolver o crachá

Por Manuela Aquino
Atualizado em 17 fev 2020, 13h02 - Publicado em 27 set 2019, 08h00

Você chega ao trabalho e há algo estranho. O ambiente está mais silencioso, as pessoas observam você de rabo de olho. O telefone toca e a secretária do seu chefe a chama. O frio na espinha e o coração disparado, sinais de tensão, antecipam o que vai acontecer naquela sala reservada – a demissão.

Talvez essa cena já tenha acontecido na sua vida ou com alguém próximo de você. Depois do susto, a questão passa a ser o que houve para chegar a esse ponto extremo. Um misto de culpa e de sentimento de injustiça se instala. Só que muitas vezes o fim da sua trajetória naquele emprego já vinha sendo desenhado fazia tempo, e você não tinha percebido ou não deu bola.

“A informação vem de várias formas, pode ser oficial ou extraoficial, mas a primeira coisa a usar a seu favor é a intuição, poderosa aliada que pode ajudá-la a notar o clima estranho”, explica a headhunter Luciana Tegon, sócia-diretora da Consultants Group by Tegon, em São Paulo.

Ficar atenta ao que acontece a seu lado é uma das grandes armas para reverter a situação e evitar o final infeliz. Sim, é possível driblar aquela visita fatídica ao departamento de recursos humanos.

Fogo amigo

Antes de mais nada, procure identificar os sinais que merecem ser considerados. Há momentos em que, por insegurança, nos deixamos levar por paranoias ou pela famosa rádio peão. No entanto, os especialistas com os quais conversamos concordam que, quando a fofoca toma conta da empresa, é comum se concretizar. O importante é analisar a fonte. “Às vezes cria-se um volume grande de conversas para algo pequeno”, diz Mariza Baumbach, pedagoga do Rio de Janeiro, especialista em leadership and coaching pela Universidade de Ohio.

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Mas há, sim, sinais de alerta. O primeiro é o contexto econômico. Como anda o setor da empresa em que você trabalha? Estão ocorrendo demissões nas concorrentes? A direção já avisou sobre redução de orçamento? Esses são indicativos de que a crise anda rondando sua área e, nesse caso, pouco tem a ver com as suas atitudes profissionais. Perceber a importância do seu papel na empresa, porém, está totalmente na sua alçada. Ver suas funções serem diminuídas ou raramente ser envolvida em novos projetos não são bons indícios, mas, acima de tudo, preste atenção nas atitudes da sua chefia.

Demissão
(Copyright Eric Reichbaum/Getty Images)

Estou de olho em você, gestor

Seu superior direto será a primeira pessoa que dará a pista de que algo está errado, mesmo que você não tenha recebido um feedback oficial. “Muitas vezes o chefe apresenta dificuldade em exercer o papel de líder. Porém, no momento em que decide ou sabe que irá demitir um funcionário, seu comportamento demonstra isso de forma direta ou indireta”, afirma Wilma Dal Col, diretora de recursos humanos do ManpowerGroup, empresa de recrutamento e seleção, em São Paulo.

Se seu superior tem lhe chamado a atenção com frequência, não pede mais sua opinião como antes ou não avisa sobre reuniões da sua área, algo não vai bem. “São indicativos de que a empresa pode não considerá-la no futuro da organização e apenas está aguardando o momento certo para dispensá-la”, alerta Luciana.

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Nesse caso, a melhor estratégia é solicitar uma reunião para entender o que está acontecendo. “Diga que percebeu que nos últimos tempos foram apontados tais erros, pergunte o que não está funcionando e o que pode ser feito. Destaque que se dispõe a melhorar no que a empresa exige atualmente”, diz Mariza.

Procure também demonstrar maturidade profissional. Se quer manter o emprego, essa não é a hora de se deixar agir por impulso, dizer verdades engasgadas ou partir para uma discussão com a chefia. Seja esperta, assertiva e mostre sua capacidade de percepção, adequação e seu protagonismo, ou seja, sua importância para aquele lugar.

A parte que lhe cabe

Saber o que os outros pensam faz parte do jogo, e essa bola deve ser passada para seus pares e membros da equipe. Crie o hábito de travar conversas. Às vezes, será preciso escutar e se desapegar da imagem que tem de si mesma.

Com o tempo, compreenderá que o diálogo evita certas neuras. Pode até levá-la à conclusão de que você mesma está dando razões para ser demitida. Talvez desmotivada por um aumento que não veio ou pela promoção que foi para outro funcionário, inconscientemente você apresente uma postura negativa que vai acabar provocando sua demissão.

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“Empresas contratam por currículo e demitem por comportamento – a frase é clássica e real. Atitudes destrutivas fazem as pessoas se afastarem e criarem uma imagem ruim de você. A mudança comportamental é fundamental e urgente”, explica a coach Renata Tolotti, que trabalha com mentoria de empresas e líderes, de São Paulo. Se você não é chamada para nenhuma happy hour nem almoço e percebe que os colegas param de falar quando você chega, encare como um sinal vermelho.

Plano de ação

Até seu chefe dizer com todas as letras que você está dispensada, há a possibilidade de reverter esse quadro. Depois de ter conversas e analisar o que pode ser feito, é hora de agir. Faça listas e trace objetivos para mudar sua atitude de acordo com o que foi apontado. É provável que durante um período tenha que trabalhar mais para atender às novas demandas e comportamentos exigidos. A tendência é que, com o tempo, você acabe se adaptando.

Só não deixe de fazer seu trabalho bem feito até o último dia, mesmo diante de perspectivas pessimistas. Pode ser difícil ter sangue frio, mas deve-se pensar na vida depois dali. “Se você precisar de uma referência no futuro, até o chefe que a demitiu será capaz de reconhecer suas qualidades caso a saída tenha sido tranquila”, garante Mariza.

Outra vantagem é que o próprio esforço final pode servir de exemplo do que é possível fazer como profissional. Às vezes isso tira você da zona de conforto e a ajuda a se reinventar. E talvez seja essa a atitude que seu chefe esperava para tirar seu nome da lista de cortes.

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Demissão
(Sheer Photo, Inc/Getty Images)

Não é paranoia

Pode parecer amadorismo, mas algumas empresas mantêm o funcionário que será demitido enquanto buscam outro. É possível ficar sabendo da demissão, por exemplo, por meio de um anúncio de vaga exatamente para um cargo com a descrição do seu e no mesmo setor. Se seu chefe pedir que outro funcionário acompanhe as reuniões ou que você mostre “como se faz” na sua área, estando ciente de que ali não cabe mais ninguém, vale de novo o conselho de procurá-lo para conversar, mas já começar a ver outras oportunidades de trabalho.

Direitos ao sair

Se o fantasma da demissão está rondando, é bom ter bem claro como a lei resguarda o funcionário em caso de dispensa. A demissão sem justa causa acontece por decisão do empregador, sem que o empregado tenha cometido um ato grave, como desvio de verba, para justificar. Nessa modalidade, as verbas rescisórias são aviso prévio de no mínimo 30 dias; férias (vencidas e proporcionais), 13º salário e multa de 40% do FGTS. O demitido ainda tem o direito de sacar todo o Fundo de Garantia depositado durante o contrato e de pedir o seguro-desemprego.

Há outro tipo de rescisão de contrato de trabalho, que veio com a reforma trabalhista de 2017 e é boa opção para quem está desmotivada, pediu para ser demitida e a empresa negou por causa dos custos. “A rescisão de comum acordo é permitida quando as duas partes têm interesse na ruptura do vínculo”, afirma Thais Poliana Andrade, advogada trabalhista e professora de direito do trabalho na FAE-PR, sócia do escritório Marins Bertoldi, em Curitiba.

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Nesse caso, o trabalhador tem direito à metade do aviso prévio (um mês da remuneração proporcional ao tempo de contrato – com três dias a mais a cada ano). A multa do FGTS de 40% cai pela metade, o empregado terá direito a somente 80% do FGTS depositado e não
pode requerer o benefício do seguro-desemprego.

Comigo foi assim

“Em 2014, fui promovida para uma área nova em uma empresa de tecnologia. Fiquei bem motivada, pois iria construir o departamento de marketing e formar uma equipe do zero. Meses depois, não consegui contratar ninguém nem começar nenhum projeto. Era ignorada pelo RH. A comunicação com meu superior era difícil. Ele me mandava e-mails com cobranças absurdas e prazos irreais. Para completar, o clima estava estranho e havia indícios de uma fusão. A situação afetou minha saúde. Fui diagnosticada com síndrome de burnout e fiquei dez dias afastada. A fusão se concretizou e um novo chefe chegou. Ele começou a se apropriar dos meus materiais, marcava reuniões e não me chamava. Tentei conversar, mas não via espaço. Um dia, fui homenageada por meus quatro anos de dedicação. Aí, pensei que era coisa da minha cabeça. Só que fui demitida no dia seguinte. Consegui trabalho seis meses depois, em uma empresa de marketing. Hoje, vejo a demissão de forma positiva. Após um ano, escrevi um artigo sobre minha experiência e foi um sucesso. Virei instrutora oficial do LinkedIn Learning e comando meu negócio.”

Flavia Gamonar, 34 anos, dona de empresa de treinamento de marketing, São Paulo

“Trabalhei como gerente de TI em uma construtora e incorporadora. Estava no cargo fazia alguns anos e, em 2007, era líder. Nessa época, entrou na empresa um diretor novo que passou a me excluir de algumas reuniões e projetos. Às vezes ficava sabendo por algum par que dizia: ‘Você viu o e-mail do fulano?’ – e eu não tinha recebido. Tentei conversar, fui bem sutil, e ele bem arredio. Perguntava sobre o que ele tinha em mente, qual a proposta para o setor, se podia montar um cronograma… Eu me ofereci para ajudar em tudo. Ele falava: ‘Essas coisas estou vendo’. Comecei a trabalhar por fora, fiz vários levantamentos para facilitar a vida dele e ganhar confiança. Aos poucos, ele me aceitou e me chamava para as reuniões. Passou a me ouvir. Em algumas ocasiões, apresentava algo como se fosse ideia dele. Eu não dizia nada, pois queria mostrar que éramos um time. Deu certo. Passamos a trabalhar bem juntos e fiquei lá até 2010, quando pedi demissão para ir para outra incorporadora.”

Alessandra Canhassi, 46 anos, gerente de projetos em tecnologia, São Paulo

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