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Stéphanie Habrich é CEO da editora Magia de Ler, apaixonada pelo mundo da educação e do jornalismo infantojuvenil. Fundadora do Joca, o maior jornal para adolescentes e crianças do Brasil e do TINO Econômico, o único periódico sobre economia e finanças voltado ao público jovem, ela aborda na coluna temas conectados ao empreendedorismo, reflexões sobre inteligência emocional, e assuntos que interligam o contato com as notícias desde a infância e a educação, sempre pensando em como podemos ajudar nossos filhos a serem cidadãos com pensamento crítico.
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Por que a educação brasileira precisa de mais pessoas como Claudia Costin

Stéphanie Habrich escreve sobre jornada de carreira da gestora pública e professora universitária Claudia Costin

Por Stéphanie Habrich
11 mar 2021, 13h00

Após morar por anos em Nova York, onde trabalhei em Wall Street e fiz mestrado em relações internacionais, voltei ao Brasil em 2006. Desde então, meu propósito passou a ser contribuir, ainda que de forma pequena e singela, para melhorar a educação brasileira.

Digo que a minha contribuição é pequena porque o Brasil é enorme e há muito o fazer na área educacional. Porém, na minha cabeça, os planos são tão grandes quanto esse país, pelo qual tenho tanto carinho. Hoje, respiro educação e não saberia dizer o que mais me preenche do que esse tema.

Por isso, fico imensamente feliz quando encontro almas parecidas com a minha. Uma delas, sem dúvida, é a gestora pública e professora universitária Claudia Costin, profissional que admiro imensamente e que é uma grande inspiração em minha jornada.

Claudia foi secretária de cultura do estado de São Paulo, secretária de educação da cidade do Rio de Janeiro , vice-presidente da Fundação Victor Civita, diretora global de educação do Banco Mundial, presidente da Promon-Intelligens, co-criadora do movimento Todos Pela Educação, ministra de Administração e Reforma do Estado, professora titular da PUC-SP, INSPER e Fundação Getúlio Vargas e professora visitante na École Nationale d’Administration Publique, no Canadá, e na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Atualmente, trabalha para o Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais (CEIPE).

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Sem dúvida, Claudia tem uma trajetória admirável. Adoro conversar com ela e me inspirar nos feitos de sua carreira. Por isso, quis entrevistá-la e fazer um artigo sobre a sua história. Espero que você também se sinta inspirado pela jornada dessa mulher incrível.

Início da carreira

Apaixonada por educação, Claudia sempre quis trabalhar nessa área. Porém, seu pai, um empresário, queria um caminho diferente para ela: que assumisse o seu lugar na liderança da empresa da família.

Como não queria decepcionar o pai, mas, ao mesmo tempo, não queria abdicar do plano de trabalhar com educação, a jovem Claudia resolveu fazer faculdade de administração pública – uma espécie de intersecção entre os sonhos do pai e os dela. Anos depois, seu pai percebeu que Claudia não tinha interesse em tocar a empresa e acabou vendendo a companhia. Ela, então, seguiu exclusivamente no caminho da educação.

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Nessa trajetória, sua maior inspiração certamente foi a sua mãe, refugiada de guerra que saiu da Europa em 1944 e veio para o Brasil. Como os estudos que realizou no continente europeu não foram reconhecidos por aqui, acabou concluindo apenas o antigo ginásio. Mesmo assim, sempre soube valorizar a importância da educação e incentivou os filhos a estudar. Claudia nunca esqueceu da mãe dizendo para ela que a única coisa que ninguém pode nos tirar é o que temos na cabeça. Essa e outras frases da mãe foram um estímulo para seguir o caminho da educação.

Como gestora pública, seu primeiro grande cargo foi como secretária de cultura do estado de São Paulo. Durante sua gestão, promoveu várias ações para estimular o hábito da leitura e conseguiu levar bibliotecas públicas para todos os municípios do estado. Depois, atuou como secretária da educação da cidade do Rio de Janeiro, o que ela diz ter sido a experiência mais apaixonante de sua vida – tanto no bom como no mau sentido. “Um dia você está nas nuvens e, no outro, acha que é o pior dos mortais”, conta. Apesar dos desafios, Claudia obteve várias conquistas à frente da pasta. Uma delas, certamente, foi o fato de o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) ter aumentado 22% no ensino fundamental II durante a sua gestão.

Os desafios de ser uma profissional do sexo feminino

Para além da carreira, Claudia é mãe e esposa. Conciliar todas essas “funções” não foi tarefa fácil, como ela mesma diz. “Você tenta ser a melhor profissional, apesar de ser mãe. Ao mesmo tempo, tenta ser a melhor mãe, apesar de ser profissional. Então, as cobranças, no meu caso, foram muitas. Diziam que eu não me dedicava o suficiente aos meus filhos, e isso foi muito difícil pra mim”, conta.

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Para driblar esses desafios, Claudia, novamente, se inspirou muito em sua mãe, que, apesar de todas as dificuldades, não abaixou a cabeça e seguiu buscando os seus objetivos. Apesar de não ter completado a escola, a mãe de Claudia fez parte da primeira geração de analistas de sistema do Brasil. Quando a IBM se instalou por aqui, a companhia abriu um concurso de analistas de sistema. Cerca de 900 pessoas se inscreveram e, aproximadamente, 10 seriam selecionadas. A mãe de Claudia não apenas foi escolhida, como passou em primeiro lugar no processo. Quando perguntaram qual era seu nível de escolaridade, disse que não tinha terminado a escola, mas que possuía o hábito de estudar matemática sozinha – era uma autodidata. Diante dessa história incrível, resolveram mantê-la no programa.

A mãe de Claudia dizia que as mulheres eram muito perfeccionistas e que, diversas vezes, tinham o costume de não entrar em projetos se não se sentiam 100% prontas para executá-los – ao contrário do que ocorre com os homens, que entram de cara, mesmo quando não preenchem todos os requisitos necessários. Para enfrentar esse perfeccionismo feminino, a mãe de Claudia sugeria que as mulheres colocassem desafios para si mesmas um pouco mais altos do que se sentiam prontas para fazer. Assim, elas estariam sempre um passo à frente e, quando chegasse a hora de colocar a mão na massa, aprenderiam novas habilidades fazendo, com o tempo de prática.

Esse conselho acabou se tornando o mote da vida de Claudia. Hoje, ela é mentora de 50 secretários municipais e 13 estaduais. Sempre que mentora mulheres, dá a elas essa dica de sua mãe.

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Os desafios da educação no Brasil e os problemas vindos da pandemia

Claudia é daquelas que acredita que a educação, se for de qualidade, pode mudar destinos. Mas ela mesma diz que, se realmente quisermos mudar destinos, temos que fazer algo muito mais sério do que é realizado atualmente pela educação do país.

Antes da chegada da covid-19 por aqui, o Brasil já vivia uma crise de aprendizagem muito grande, como mostram as avaliações nacionais e internacionais do pré-pandemia. A Avaliação Nacional de Alfabetização, feita em 2019, mostrou que 55% dos alunos de escolas públicas saíam analfabetos do terceiro ano do ensino médio. Além disso, no PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) de 2018, entre as economias que participaram da prova, o país ficou entre os 20 últimos colocados e foi considerado o segundo país mais desigual do mundo.

Claudia diz que, se os dados de antes da pandemia já eram desanimadores, a situação agora é ainda pior. “Enquanto algumas crianças ficaram o ano letivo inteiro fechadas dentro de casa, sem livros, sem conexão, com pais que têm um repertório sociocultural restrito, as que tinham melhores condições financeiras tiveram aulas on-line, livros e pais que ficaram em casa fazendo home office. Se a gente somar isso ao Enem, que teve a maior abstenção da história, a gente sabe que o acesso à universidade com certeza diminuiu de forma muito expressiva para a população em situação de vulnerabilidade. As perdas de aprendizagem foram imensas”, reflete.

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A situação, como explica Claudia, fica ainda mais grave quando pensamos que tudo isso está acontecendo em meio a um cenário de quarta revolução industrial. As previsões indicam que a inteligência artificial pode substituir o trabalho humano – principalmente nos serviços que exigem esforço intelectual básico. No Brasil, nem o básico é entregue ainda. “Nós temos um desafio enorme para o século XXI. Temos que ter um olhar mais sistêmico e olhar tanto para as competências cognitivas como para as competências que preparam para o século em que vivemos. Competências que desenvolvem pensamento crítico e sistêmico, capacidade de fazer análises mais aprofundadas, resolução criativa e coletiva de problemas. Nós não podemos ter autopiedade. O Brasil tem que se desafiar para ter uma educação decente. Isso significa tornar a profissão de professor mais atrativa e formar melhor os profissionais de educação, com diálogo entre teoria e prática. Além disso, temos que investir na infraestrutura das escolas. Não precisamos de escolas muito sofisticadas, mas temos que fazer com que elas tenham condições mínimas”, diz Claudia.

Mensagem para as meninas

No mês em que se comemora o Dia da Mulher, perguntei à Claudia que mensagem ela deixaria para as meninas do Brasil. O recado foi simples, mas extremamente oportuno. Ela disse que temos que ter prazer por aprender, pois essa seria a única forma de superar os obstáculos que existem por aí e que, muitas vezes, atingem especialmente as mulheres. “É um pouco como acontece no balé. Uma bailarina tem que estudar um passo que está fazendo errado durante horas. Não tem nada mais doloroso do que trabalhar em algo que a gente faz errado. Mas essa mentalidade de superação deveria ser aplicada a todas as áreas. Temos que tentar superar aquilo que a gente ainda não consegue fazer, para ter o prazer de vencer um obstáculo. Não podemos só ter prazer em fazer coisas que a gente já sabe”, afirma.

Com essa mensagem, eu me despeço. Espero que esse texto tenha mostrado um pouco sobre a pessoa incrível e extremamente inspiradora que é Claudia Costin. Sem dúvida, precisamos de mais seres humanos como ela no mundo!

Até a próxima!

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