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Juliana Borges é escritora, pisciana, antipunitivista, fã de Beyoncé, Miles Davis, Nina Simone e Rolling Stones. Quer ser antropóloga um dia. É autora do livro “Encarceramento em massa”, da Coleção Feminismos Plurais.
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Uma carta aberta para a Anitta

A escritora Juliana Borges comenta sobre as recentes lives da cantora sobre política e das cobranças que vem fazendo aos parlamentares em suas redes sociais

Por Juliana Borges
Atualizado em 17 Maio 2020, 21h00 - Publicado em 17 Maio 2020, 21h00

São Paulo, 17 de maio de 2020

Anitta, eu não sei bem como começar esse diário, mas ele é oferecido para você. Nem sei se eu deveria dizer, acho que vou sofrer uma torrente de críticas, mas eu não estou muito aí para isso. O fato é que eu queria te dizer para você continuar o que está fazendo.

Para quem não sabe, a cantora Anitta está com tudo nessa quarentena. Ela tem dialogado com parlamentares, demandando esclarecimentos sobre matérias importantes que tramitam no Congresso Nacional. A coisa começou a esquentar na discussão, melhor dizer no questionamento, do setor artístico sobre a Medida Provisória 948/20, que impactaria no recebimento de direitos autorais para vários artistas. Daí, para a nossa sorte, Anitta se empolgou. Também se levantou em suas redes pedindo mobilização das pessoas contra a MP 910, conhecida como “MP da Grilagem”, com forte apoio da bancada ruralista. A medida anistiaria pessoas que invadiram terras públicas, principalmente na Amazônia. E, depois disso, mais maravilhosidade com as lives em que ela aprende e compartilha o aprendizado sobre política, com uma linguagem facilitada.

Mas nem tudo são flores e nunca é possível agradar gregos e troianos. Uma série de críticas começaram a surgir. De um lado, os que desqualificam quando uma mulher resolve se posicionar, principalmente na esfera política. O tipo de comentário, nem vale a pena reproduzir. E de outro, para a minha mais gigante surpresa, foi de setores progressistas cobrando o fato da cantora não ter se posicionado sobre política anteriormente.

Com este panorama, eu reafirmo: vai, malandra! É um humilde pedido de quem não aguenta mais notas de repúdio dos progressistas. Notas que têm dialogado apenas dentro da própria bolha, que não tem ampliado o diálogo com ninguém. E, puxa, como precisamos do diálogo. Mais do que nunca. Eu concordo com você, Anitta, quando diz que as críticas são sintomas do quanto o nosso país se estagna e, pior, retrocede. A negação das pessoas em relação à produção científica não acontece simplesmente porque pessoas são burras (podem até existir os ignorantes de carteirinha e os mal-intencionados, mas não acredito que sejam a maioria), mas porque temos um modelo acadêmico que dialoga e demonstra pouco à sociedade o seu trabalho. Isso, obviamente, é uma discussão mais complexa, que também envolve o funcionamento do nosso Estado, que tem diminuído investimentos na ciência ou nunca deu a devida importância para o desenvolvimento de tecnologias e da ciência (entendendo-a aqui com muito mais do que as biomédicas), como seria necessário em um país forte e de dimensão continental como o Brasil. Mas esse ar de superioridade ativista precisa acabar.

Eu me senti extremamente animada ao saber que mais de 3 milhões de pessoas, só na sua primeira live, haviam acompanhado e aprendido o que são e como funcionam os três poderes. Para mim, esse é um pilar fundamental se queremos construir cidadania plena, em que todos passam a compreender melhor os seus direitos, e não só os deveres, em uma sociedade, para que a gente seja, o que chamamos, sujeitos políticos de direitos. Sabe, Anitta, uma das piores coisas que acontecem e fazem com que as pessoas fiquem paradas e não lutem pelos seus direitos é não saberem quais direitos têm e nem como funcionam as instituições que deveriam representá-las, mas que precisam de controle social. Precisam que a gente esteja próximos e atuantes.

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Além da pandemia, vivemos uma crise política e econômica no país e que não foi iniciada pelo novo coronavírus. A economia já estava caótica, as pessoas já estavam perdendo seus empregos, nossos direitos já estavam sendo usurpados, uma série de acordos espúrios continuavam, e continuam sendo realizados no cotidiano político. A pandemia, na verdade, vem apenas tornar explícito o caos no qual estamos metidos.

As novas críticas, agora, se dão porque você falou do “pum das vacas” em uma live com um deputado para tratar do debate ambiental e sobre o desmatamento da Amazônia. Gente boba e vazia. Eu já falei por aqui da relação direta entre a cadeia produtiva de alimentos, o desmatamento, o aquecimento global, o desgelo de calotas polares e o surgimento de pandemias, que serão cada vez mais constantes se não mudarmos o modo como produzimos, consumimos e vivemos. Como vegetariana, eu amo ver você falar sobre diminuição do consumo de carne, que não é só a bovina, mas de todos os tipos de carne.

Esse é só um desabafo e um apoio. É uma bobagem tremenda criticar quem tem alcance de milhões e se dispõe a aprender e a dialogar. Que a gente pode divergir, não tenho dúvidas. Eu já fiquei bem irritada quando queria que você se posicionasse anteriormente, confesso. Mas continua, Anitta, malandramente atingindo mais pessoas. A gente precisa sair dessa várzea política que nos encontramos.

E, ó, se você e o Felipe Neto conversarem e resolverem por uma chapa aí, me avisem. Tô no apoio.

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PS: esse texto contou, novamente, com a consultoria da adolescente da casa, que é fã do Felipe Neto

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