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Juliana Borges é escritora, pisciana, antipunitivista, fã de Beyoncé, Miles Davis, Nina Simone e Rolling Stones. Quer ser antropóloga um dia. É autora do livro “Encarceramento em massa”, da Coleção Feminismos Plurais.
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E se foi o nosso cara bacana. Vai em paz, Aldir Blanc!

A partir das crônicas de Aldir Blanc, aprendi que é uma bobagem quem acha crônica um gênero literário menor

Por Juliana Borges
4 Maio 2020, 20h09

São Paulo, 04 de maio de 2020

Uma característica desses tempos é a inconstância dos nossos sentimentos. A gente fica feliz, logo fica ansioso, depois passa para desesperado. Daí, se sente brevemente feliz, reconstrói sentido no dia a dia. Não tem pausa. A montanha-russa é das maiores que já pudemos ir em nossas vidas. “E a gente se acostuma, mas não devia”, como disse Maria Colasanti.

E, hoje, a gente perdeu alguém muito importante para a cultura brasileira. Digo cultura, porque a contribuição de Aldir Blanc transbordava a literatura e a música. E digo cultura no sentido amplo que o termo tem, de nos conferir o caráter de humanidade, mesmo que essa esteja à beira do abismo.

Não me lembro muito bem da primeira vez que tive contato com a produção de Aldir Blanc. Não porque ela não teve grande significado, porque teve, mas mais porque era tenra a idade da menina que via a mãe se comover enquanto cantava a plenos pulmões O bêbado e o equilibrista na voz imortalizada de Elis Regina ou sorria ao cantar Mestre-sala dos mares, na voz de João Bosco.

Já o segundo contato foi inesquecível porque, naquela altura, eu já sonhava escondido e matutando sozinha que, talvez, as Letras poderiam ser um caminho para seguir. Em 1998, ganhei o livro “Um cara bacana na 19ª: contos, crônicas e poemas”, com desenhos de Chico Caruso. Pense em como guardo esse livro como ouro! O tempo de leitura pode ser resumido em um suspiro, um gole d’água e um sorriso de contentamento.

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A partir das crônicas de Aldir Blanc, aprendi que é uma bobagem quem acha crônica um gênero literário menor, que a gente pode tratar do espinhoso com leveza, com sagacidade e humor, que a gente pode ser crítico e ainda rir. Nesse mesmo livro, a contracapa é de Chico Buarque e diz bem sobre a escrita de Blanc: “Aldir Blanc é uma glória das letras cariocas. Bom de se ler e de se ouvir, bom de se esbaldar de rir, bom de se aldir”. Lindo, né?

Hoje, passei os olhos sobre algumas das crônicas e dos poemas. E podiam bem ser sobre Blanc falando do Brasil atual, como em Mostrando a cabecinha do iceberg, que começa da seguinte maneira:

“Bom, agora que a História acabou, a Nova Ordem Mundial impera e o 1º de Maio foi calmamente comemorado no mundo todo entre socos, pontapés e jatos d’água, nós aqui insistimos em destoar desse clima de concórdia e prosperidade. O Brasil está mostrando, não diria a cara, mas o que há de mais sujo nos fundilhos, com os celulares a mil”.

O 1º de maio não teve grandes atos porque estamos isolados pela pandemia. Mas segue atual ao dizer que estamos absurdamente sujos nos fundilhos. E o que a gente faz? Segue lendo o poeta sem absorver sua crítica? Acho que não dá, acho que não podemos.

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Que saudade vai fazer Aldir Blanc! Meus sentimentos aos familiares, amigos e a todos que eram próximos e o amavam. A perda nesses tempos ganha outras dimensões. Eu aqui sou só pura energia de afeto à família, e imensa gratidão a esse “cara bacana”.

Acompanhe o “Diário De Uma Quarentener”

Em tempos de isolamento, não se cobre tanto a ser produtiva:

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