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Juliana Borges é escritora, pisciana, antipunitivista, fã de Beyoncé, Miles Davis, Nina Simone e Rolling Stones. Quer ser antropóloga um dia. É autora do livro “Encarceramento em massa”, da Coleção Feminismos Plurais.
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É preciso ouvir a música. Vá na paz, Zuza!

Com a partida de Zuza Homem de Mello neste domingo (4), Juliana Borges conta como o trabalho do especialista em música e jornalista atravessa sua vida

Por Juliana Borges
4 out 2020, 20h00

São Paulo, 04 de outubro de 2020

Uma das coisas que escutei em uma entrevista de Zuza Homem de Mello, e que resolvi adotar, é que a gente precisa ouvir a música. Parece uma obviedade, mas não é. Essa frase dele me remete a um diálogo que tive certa vez com um jovem indígena que me disse que temos dois ouvidos e uma boca e que isso é uma expressão imensa sobre o nosso exercício cotidiano. Não sei se aquele jovem conhecia Zuza Homem de Mello, nem se o último fazia alguma relação entre sua afirmação e a filosofia de alguma sociedade indígena. O ponto de ligação é de ambos falando sobre esse sentido tão pouco valorizado em nossa sociedade: a audição. E foi assim que eu passei a apreciar cada vez mais o jazz, já que o escritor foi sempre uma fonte para os meus aprendizados sobre um dos meus ritmos favoritos.

A primeira coluna do musicólogo foi, exatamente, sobre jazz. Segundo o próprio, em 1956, sobre a vinda da Orquestra Dizzy Gillespie ao Brasil. Com o crítico, aprendi muito sobre jazz, um ritmo que já me intrigava desde cedo, principalmente pela forte figura de Nina Simone, mas que eu pouco sabia como bem apreciá-lo. E lá foi Zuza Homem de Mello ser um baita de um “professor” a essa que vos escreve por ensinar que: jazz tem tema e improvisação; que jazz nos move fisicamente e no estômago; e que essa é uma ligação quando pensamos que suas origens vêm de descendentes africanos em diáspora; da relação que podemos fazer com as músicas populares e em como eles “mexem” fisicamente conosco.

Zuza Homem de Mello foi uma das figuras mais importantes quando o assunto era música em nosso país. Na sua participação em festivais, em programas sobre música, na sua escrita que nos orientava pelos ritmos, melodias e harmonias. Em 2007, ganhei o livro A era dos festivais: uma parábola e foi como um imenso mergulho na história da música brasileira, de um de seus momentos mais efervescentes. Pela programação de um Free Jazz Festival, o de 1997, quando eu era apenas menina-mulher, que soube de Neneh Cherry, um amor pra lá de profundo do qual nunca mais me desvencilhei. E me lembro que chorei aos montes porque não pude ver Erykah Badu, pela qual eu já era uma aficcionada por influência de minha mãe. Desses encontros fomentados pela escrita e/ou curadoria de Zuza Homem de Mello é que cheguei em Pixinguinha, por exemplo, e foi como uma explosão de descoberta em minha cabeça ainda juvenil.

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Como já fiz aqui para outros grandes que nos deixaram nesse desastroso ano, não é minha intenção falar sobre a vida e trajetória de Zuza Homem de Mello, porque nem tenho o repertório para isso. Apenas pontuar como suas produções me atravessaram e deixar meu muito obrigada! Vá em paz, Zuza! E, por favor, avise Nina Simone, Miles Davis e Duke Ellington que não há dia que eu não os escute e os venere!

PS: E uma dica a você que lê: o documentário “Zuza Homem de Jazz”, de Janaína Dalri, é um bom jeito de celebrar essa gigante memória brasileira.

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