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Juliana Borges é escritora, pisciana, antipunitivista, fã de Beyoncé, Miles Davis, Nina Simone e Rolling Stones. Quer ser antropóloga um dia. É autora do livro “Encarceramento em massa”, da Coleção Feminismos Plurais.
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As periferias e as mobilizações na pandemia

No "Diário De Uma Quarentener", a escritora Juliana Borges comenta sobre os movimentos de moradores de comunidades do Brasil para combater à Covid-19

Por Juliana Borges
Atualizado em 7 abr 2020, 22h12 - Publicado em 7 abr 2020, 20h55

Enquanto as principais recomendações para enfrentarmos a pandemia do novo coronavírus no país era “lavem as mãos”, “evitem aglomerações” e “fiquem em casa”, uma série de ativistas e coletivos de periferias e de direito à moradia começaram a fazer perguntas incômodas para muitas de nós: “Mas e quem não tem casa?”; “Mas como ficar em uma casa de dois cômodos que moram 6, 10 pessoas?”; “Mas como garantir a higiene básica se tem racionamento de água nas favelas?”. Muita gente não queria ouvir. Mas estes ativistas são incansáveis, estão nas batalhas cotidianas há anos e não deixariam de estar nesta trincheira tão importante agora.

As perguntas são importantes, são sérias. Porque a maneira como países europeus lidam com o distanciamento social e a interrupção de uma série de serviços e aglomerações não tem os mesmos impactos do que se realizadas aqui, em um país continental, amplamente diverso e com profundas desigualdades como o Brasil. Eu não sei se você sabe, mas em nosso país mais de 100 milhões de pessoas não têm acesso a esgoto e o abastecimento de água não é total, ficando em 83,6%. As favelas enfrentam racionamentos de água constante. Mas não só as favelas. Vez ou outra, tem racionamento noturno aqui para os meus lados. A gente só não sente aqui em casa, porque temos uma caixa de água grande. Mas e quem não tem? Mas e quem não tem home office porque seu ganha-pão é por serviço diário? Como fazer?

Óbvio, quem pode ficar em casa, deve ficar em casa. Não é nenhuma ação que merece aplauso. Como vi no discurso do prefeito Gianfilippo Banchieri, de uma pequena cidade do sul da Itália, ontem: “ficar em casa, para quem pode, não é nada mais do que uma obrigação, um compromisso e dever cívico”. Os aplausos ficam para os profissionais de saúde, da segurança, os voluntários que estão nas trincheiras todos os dias. Quem tem um teto para ficar, deve permanecer em casa porque estamos só começando a fase do pico do vírus. E se, além de ficar em casa, você também pode ajudar de alguma forma, essa ajuda é bem importante.

Então, eu vou “lançar o papo reto”, como se diz aqui nas minhas bandas periféricas de São Paulo e de várias cidades brasileiras. “Lançar o papo reto” nada mais é do que ser direto, objetivo, falar o real, no ponto. E a questão é: enquanto os principais atores que poderiam fazer algo nessa situação toda estão pouco fazendo ou em disputas políticas, tem muita gente se mobilizando e fazendo muitas coisas que a gente pode ajudar.

Hoje, falarei de 3 iniciativas, uma em São Paulo e duas no Rio de Janeiro. E vou sempre compartilhar aqui iniciativas e mobilizações da sociedade civil em vários lugares do país. Tudo bem?

A primeira é de São Paulo. A Agência Popular Solano Trindade foi criada em 2012 e fica no Capão Redondo/Campo Limpo, zona sul da cidade. Muitos são os trabalhos desenvolvidos pela agência, mas os principais são a capacitação, o fortalecimento e a assessoria de empreendimentos periféricos. Além disso, na sede da Solano tem o primeiro co-working das periferias. O nome é uma homenagem ao “poeta do povo”, Solano Trindade, que escreveu os seguintes versos, que são a diretiva da entidade: “Pesquisar na fonte de origem/ e devolver ao povo em forma de arte”. E nisso que a Solano trabalha constantemente com várias iniciativas como o Armazém Organicamente, em que eles vendem produtos orgânicos de produtores da região; e a Cozinha da Tia Nice, restaurante que oferece diariamente refeições com orgânicos – e tem opções vegetarianas e veganas também!

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Além de apoiarem mais de 300 empreendimentos periféricos. Nesse processo, a Solano está com uma campanha no site Kickante para arrecadar fundos que garantam a manutenção da sede, da cozinha e do armazém. Então, você ajudará a manter o apoio aos projetos e de custos fixos básicos que não param de chegar com a pandemia. Você também pode acessar a página da Agência no Instagram e se informar da campanha de arrecadação e distribuição de cestas básicas para famílias da região. Olha só: a Solano já apresentou que distribuirá 113 cestas básicas por 3 meses e vale-gás por 2 meses para famílias que estão precisando muito desse apoio para enfrentar esse processo todo. O perfil no instagram é @agsolanotrindade e você pode falar com os meus parceiraços Alex Barcellos e Thiago Vinícius!

A segunda iniciativa é de um ativista que respeito e admiro muito, todos eles, na verdade! Mas é a iniciativa do Coletivo Papo Reto (olha o nome!), formado por jovens do Complexo do Alemão no Rio de Janeiro, que conta com a atuação do Raull Santiago. O Coletivo Papo Reto, como diz o site, é: “um coletivo de comunicação, tecnologia, cultura, educação e cidadania do Complexo do Alemão, que usa a Internet e o audiovisual como ferramentas para garantir e reafirmar direitos para a favela, disputar a realidade da mesma, pressionar para reais investimentos públicos com a participação das pessoas, mobilizando ações virtuais e, quando no campo, visando fortalecer positivamente as pessoas e que deem visibilidade à realidade e à memória periférica do Complexo do Alemão”. Como a gente diz: sentiu a responsa? O Papo Reto compõe um comitê de crise e acompanhamento da pandemia do novo coronavírus no Alemão e trabalham dia e noite na conscientização e distribuição de kits de higiene e alimento para as famílias das favelas. Você pode acessar os perfis do Coletivo para fazer sua doação e também o perfil do Raull para acompanhar várias iniciativas das favelas diante da pandemia: @cpapo_reto e @raullsantiago.

E a terceira iniciativa é do querido Rene Silva, também do Rio de Janeiro. O Rene criou o “Voz das comunidades” em 2005, quando ainda tinha 11 anos! Tudo começou como um jornal comunitário no Morro do Adeus, entre as 13 favelas que formam o Complexo do Alemão. Desde 2010, como aponta o site, ano que eles viveram o “grande boom” do jornal, as ações só aumentam. Eles também compõe o comitê de acompanhamento da pandemia no Alemão, estão incentivando moradores que tem água a compartilhar com os que não tem, pressionando para que não haja interrupção do abastecimento de água nas favelas e também estão arrecadando doações para garantir cestas básicas, produtos de higiene, além de distribuindo muita conscientização pelo complexo. O perfil do Rene Silva é @renesilva e você pode contatar a iniciativa pelo e-mail contato@vozdascomunidades.com.br!

Veja bem, você pode pensar “mas eu não tenho muito”. Não precisa ser muito. O que você puder, já ajudará bastante. Milhares de pessoas perderam a possibilidade de vender pano de prato, bolos nas proximidades de empresas, biscoito globo e chá-mate na praia (esse símbolo das praias cariocas), não podem garantir as diárias de limpeza, nem fazer as unhas dos pés e mãos que garantem o sustento do dia. Muitas são as “virações”, as tecnologias de sobrevivência que as pessoas desenvolvem todos os dias para garantir renda em suas vidas e para as suas famílias. A gente fica em casa. Mas se a gente quiser garantir que mais pessoas se protejam, a gente precisa se unir e se ajudar. A contradição é evidente: no momento em que a gente menos pode estar juntos fisicamente é quando a gente mais pode ficar junto em afeto, empatia e reconstruindo o que entendemos como coletividade. Conto com você nessa!

Acompanhe o “Diário De Uma Quarentener”:

01/04 – A rotina do isolamento de Juliana Borges no “Diário De Uma Quarentener”

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02/04 – O manual de sobrevivência de uma quarentener

03/04 – Permita-se viver “o nada” na quarentena sem culpa

04/04 – O que a gente come tem algo a ver com as pandemias?

Resiliência: como se fortalecer para enfrentar os seus problemas

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