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Crônicas de Mãe

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Por Ana Carolina Coelho. Feminista, mãe, escritora, poeta, dançarina, plantadora de árvores, pesquisadora e professora universitária

“Eu te amo no meu dente” ou onde mora, afinal, o amor entre mães e filhas/os?

"Sentir faz parte de nossas histórias e lembranças e de quem nos tornamos como mulheres/mães", escreve a colunista Ana Carolina Coelho

Por Da Redação
Atualizado em 14 set 2021, 12h11 - Publicado em 13 set 2021, 11h00
maternidade
 (Jupiterimages/Getty Images)
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Poucos dias depois da nossa mudança – da qual eu falei na última crônica – a mãe de uma amiga/irmã faleceu. A mãe de uma atual mãe. Eu conheço a “tia” há 40 anos, porque Beta e eu somos amigas desde nossos primeiros dias de aula. Eu e ela somos desses amores que se (re)conhecem.

Eu chorei amargamente quando soube da notícia: estava longe do alcance dos braços da minha tão querida companheira de alma e só pude fazer meus abraços chegarem à distância, pelas azuladas telas de mensagens. A minha amiga “amaternou” sua mãe nos últimos anos e sua tristeza transbordava em cada letra escrita. Ela ainda teve a imensa generosidade de dizer o quanto minha viagem a fazia feliz, que eu aproveitasse meu trabalho e cuidasse das crianças. Eu a amo tanto que me preocupo sempre em mandar pequenas mensagens que dizem “estou aqui!”.

Essa é uma coisa engraçada sobre amar. Muito mais que um sentimento, o amor é um fazer diário, um gesto contínuo que insiste em se manter presente com todas as limitações da ausência, um “oi” que se diz aleatório, mas que possui a intensidade do contato. Durante praticamente toda a minha vida as mães das minhas amigas foram minhas “tias”, apelido, acredito eu, de todas as mães de nossas amizades nos anos 1980 e 1990 – e não poder dizer “adeus” de perto a essa “tia/mãe” cortou um pedaço de mim.

Uma vez eu e Roberta estávamos brincando na sala de sua casa e quebramos, quer dizer, tecnicamente fui eu, mas ambas dividimos a responsabilidade – um vaso que a “tia” adorava. Em vez de contarmos a verdade, e na vã tentativa de nos salvarmos de uma grande bronca, remontamos o vaso, peça por peça e o deixamos no pequeno aparador no canto da sala. Assim que a “tia” chegou em casa, entrou na sala e disse: “o que houve com meu vaso?”.

Confrontadas, fomos obrigadas a confessar (meu) nosso delito. Recebemos um grande sermão, mas ela nos deu o crédito da criatividade do disfarce do vaso quebrado e riu. A sua risada era a coisa mais linda, além de seu olhar apurado pois, afinal, o vaso ficava em um canto no final da sala!!

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Quando chegamos na idade de “amaternarmos” nossas mães entendemos um pouco que o amar possui palavras, gestos e corpos. E que esse sentir faz parte de nossas histórias e lembranças e de quem nos tornamos como mulheres/mães. Somos pegas rindo de algo que ocorreu há mais de 25 anos com a mesma intensidade por alguma coisa que aconteceu há meia hora. O amor transpassa o tempo e permanece em nossos corpos. E isso é o que faz a saudade doer por todas as partidas nas quais somos obrigadas a nos despedir.

Ontem eu estava assistindo TV com minha flor menor no colo e, em um determinado momento, ganhei um abraço apertado. Retribui e afirmei: “Eu te amo em todo meu abraço, você sente?.” E minha pequena disse: “Sinto sim, mamãe. E eu te amo no meu dente.” Eu perguntei “porque no dente?” e recebi como resposta a singela frase “por que eu gosto do meu dente, ué!”. Logo, se ela gosta dos dentes, o amor deve existir neles também, certo? E minha garotinha me olhou com o sorriso vitorioso da sabedoria dos 3 anos de idade.

Com essa idade eu já era amiga da Beta e já conhecia a “tia”. O tempo é um estranho compasso da humanidade. Foram anos muito lindos de convivência e eu hoje sou uma mulher melhor por ter tido a honra de ter sido amada e acolhida por uma “tia/mãe” como ela nas tantas vezes em que fiquei em sua casa. Amar alguém é como uma onda que nós construímos dentro de nossas almas e que nos rega de tempos em tempos com sua força.

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Amar é algo que está no corpo inteiro e somos tomadas por essa benevolência ativa que constrói e se mantém firme independente do tempo e do espaço. É um sentimento e igualmente uma ação de existir no cuidar e ser cuidada.

“Eu te amo no dente e no meu corpo inteiro!”, respondi e continuei segurando minha pequena Jasmin nos braços enquanto lágrimas escorriam livres, em uma cachoeira formada pelas ondas, que ontem insistiam em morar nos meus olhos. Dias Mulheres virão!

Vamos conversar?

Se quiser entrar em contato comigo, Ana Carolina Coelho, mande um e-mail para: ana.cronicasdemae@gmail.com ou uma mensagem pelo Instagram: @anacarolinacoelho79. Será uma honra te conhecer! Quer conhecer as “Crônicas de Mãe”? Leia as anteriores em aqui e acompanhe as próximas!

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