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Por Cultura
Coluna sobre arte e cultura assinada pela redação de CLAUDIA
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Blade Runner 2049 e o nosso medo do futuro

O filme mostra o medo da fome, das mudanças climáticas e de um futuro de destruição

Por Isabella D'Ercole Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 6 out 2017, 17h28 - Publicado em 6 out 2017, 16h54

Chegou ontem aos cinemas a sequência do brilhante Blade Runner. Trinta e cinco anos separam o primeiro episódio desse novo. Lá em 1982, o visual futurista e alarmante, a história envolvente, a direção de Ridley Scott e a atuação de Harrison Ford capturaram o público e transformaram o filme em um clássico. É por isso que, em 2015, quando começaram as especulações sobre a nova versão, os fãs ficaram com medo. Poderia esse ser um desastre que destruiria a reputação de Blade Runner?

Não. Em Blade Runner 2049, todas as referências ao universo do filme são mantidas intactas e respeitosamente. A trama é correta, não desvirtua do que era previsto no final do primeiro. Para situar quem nunca viu: em um mundo distópico (mas não tão longe assim da realidade que enfrentamos), os replicantes (andróides) estão desenvolvidos e assumem diversas funções dos humanos. Porém, após uma rebelião violenta, são banidos do planeta. Um blade runner é um policial responsável por caçá-los. Harrison é o melhor de seu ramo, mas, sem querer dar spoilers, acaba se encantando por quem não deveria. Vale assistir, mas quem não viu entende perfeitamente a trama que estreou ontem.

No novo, que se passa 30 anos depois, os replicantes estão cada vez mais desenvolvidos e as versões mais recentes devem exterminar as antigas. Ryan Gosling é um blade runner. O que o difere dos humanos é sua dificuldade em experimentar as emoções e a falta de memórias reais de infância, o que ele tem são imagens implantadas por especialistas. Ele se vê envolvido em um caso inédito e extremamente sigiloso. Apesar das mais de 2h40, o filme é tão envolvente que não se nota o tempo passar. Mas admito que cena a cena cresce a expectativa da volta de Ford. Recomendadíssimo assistir, apesar das pequenas falhas (tipo um vilão desnecessário interpretado por Jared Leto).

Mas esse post não tem a intenção de fazer uma crítica ao filme e sim de discutir o medo que temos do futuro exposto tanto neste como em outros filmes. Em Blade Runner 2040, o mundo é um lugar horrível, destruído. As enormes favelas abrigam a maior parte da população e as guerras sociais são afloradas. As cidades supertecnológicas lembram uma versão feia e escura das ruas de Tóquio, no Japão.

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A comida não foi suficiente e a fome só foi evitada por meio de mutações que protegem as plantações (alô, transgênicos). As minhocas são a fonte de proteínas mais comum. Eca. Os carros voam, mas mal se vê o horizonte de tanta poluição e porque a chuva é constante, resultado do aquecimento global. O clima é de medo e as pessoas são agressivas, cada vez mais preconceituosas, intolerantes e rejeitando o que é diferente – mais atual, impossível. As relações íntimas e seguras acontecem com inteligências artificiais em realidade aumentada. O trabalho escravo e infantil parece ser regularizados.

Esse prognóstico é comum em diversos filmes. Me lembro quando, na escola, a professora mostrou No Mundo de 2020, um filme futurista em que o protagonista descobria que o tablete verde servido no lugar da comida era feito de pessoas mortas. A falta de comida é um medo frequente. Mas não acho que a solução está nos transgênicos e vejo cada vez mais forte o movimento de pequenos produtores com vendas locais.

(Reprodução/Sony Pictures Classic)

Também discordo das cidades destruídas e sombrias. Com a arte ocupando espaços públicos e a preocupação com a qualidade de vida, temos valorizado atividades em espaços públicos. Fechamos grandes avenidas, fazemos festivais de rua, buscamos a volta do verde em jardins verticais ou recusamos abrir mão de praças e parques onde querem construir mais prédios. Em algumas cidades, já temos até hortas que compartilham a calçada com pedestres. Há um movimento que cresce preocupado em deixar para as próximas gerações um mundo acolhedor e funcional, que tem salvação.

As relações estão cada vez mais digitais, é verdade. Mas chegaremos ao ponto que vimos também em Her, com Joaquin Phoenix? Vamos nos apaixonar por máquinas, por seres inexistentes fisicamente? Essa eu não tenho como responder, mas fico aqui pensando em um post de uma conhecida que vi hoje. Ela celebrava dois anos de namoro com um cara que conheceu num aplicativo. Nos comentários, outras pessoas dividiam suas histórias: um casou com a menina que conheceu no aplicativo, o outro já estava junto há meses, outro celebrava a tecnologia no encontro do par ideal. Talvez no final a gente entenda as barreiras e limites tecnológicos. Até chegar lá, é provável que as coisas fiquem meio doidas, como sempre é num mundo em transição: os extremos existem para a gente chegar ao meio-termo ideal.

O cinema (além de ser uma arte, é claro) é uma ótima ferramenta para estudarmos nossa sociedade e cultura. Se esses são os nossos reais medos refletidos, temos a chance de fazer a diferença antes que se tornem verdade. Basta começar: o que você vai fazer para não viver no mundo de Blade Runner 2049? Me conta depois de assistir o filme!

Ana de Armas and Ryan Gosling in Blade Runner 2049 in association with Columbia Pictures, domestic distribution by Warner Bros. Pictures and international distribution by Sony Pictures Releasing International. (Reprodução/Sony Pictures Classic)
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