Não, não há muita compreensão em crimes ambientais. Vai dizer que foi a mãe natureza, mas, caros leitores, o descaso está em poder dos homens.
Juntei tudo isso no meu liquidificador pessoal e me vi lá naquela lama. Euzinha no refeitório, na pousada, em casa, planejando a visita a Inhotim, assistindo a TV, lavando louça, dormindo, transando e pá! Você morre.
Com sorte não agoniza naqueles palmos embaixo da terra que também sofre. E se você for uma cabra, cavalo, cão, peixe, pássaro? Igualmente morto você estará.
E aí, o repórter não para de comentar as técnicas de salvamento, os israelenses chegam pra ajudar, os familiares gritam seus mortos, os executivos ocultam suas propinas… E me dou conta que a empresa se chama Vale. Vale o quê? Grana, poder, status, potência mundial? É uma das empresas mais valiosas do mundo. E volto para o meu umbigo, e daí? Alanos, Fabrícios, Wandersons, Robsons, Camilas estão mortos.
A coluna hoje é só tristeza. Não há mais espaço para mimimis. Se vamos morrer, que seja com uma linda vida vivida e não dessa forma avassaladora.
Eu que valorizo e debato a maturidade, sou varrida por essa lama insensata. Me sujo com tanto descaso. O nome da morte agora tem novo batismo: Mariana Brumadinho, um ser fictício que será sempre sinônimo de negligência e irresponsabilidade. Em vez de placenta, barro. De choro, prantos. Da natureza, só restaram vidas secas. Um parto de cadáveres no vale da morte.
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