O feitiço das dunas – conto de Amor e Sexo
Camila está empolgada com a viagem que fará à Praia das Dunas. Porém, Rafael, seu namorado, desiste do passeio. Camila decide ir sozinha e tem a sensação de que sua vida se transformará profundamente
Assim que chegou à Praia das Dunas, Camila
teve uma estranha sensação
Foto: Getty Images
“Parabéns pela promoção!”, disse minha gerente com um sorriso simpático. Tinha esperado por aquele dia havia pelo menos quatro anos. Desde a minha entrada naquela fábrica de biquínis, nunca havia tido tão boa notícia. Agora, como supervisora de vendas, teria um bom aumento de salário e mais responsabilidades. Poderia, finalmente, pagar algumas dívidas, comprar a mobília que faltava para meu pequeno apartamento e sair da casa de minha mãe.
Logo que recebi as felicitações, corri ao telefone para contar a boa nova ao meu namorado. Ele não me pareceu muito empolgado. “Que legal, Camila, parabéns!”, disse sem muito entusiasmo. Rafael era gerente de um banco e raramente nos falávamos durante o horário de trabalho. “Bem, preciso desligar. Ah, ia me esquecendo… é melhor cancelarmos a viagem à Praia das Dunas. Vou ter que adiar as férias. Tudo bem para você?”, murmurou para que ninguém o escutasse no ambiente de trabalho.
Respondi um sim mecânico e desliguei desapontada. Abri a gaveta da mesa e vi ali as passagens e a reserva da pousada paga. Meus olhos se encheram de lágrimas. Fazia três anos que não tirava umas semanas para descansar. Peguei o telefone, disposta a ligar para a agência e cancelar tudo, mas meus dedos discaram para outro número. “Rafa, sou eu de novo! Eu vou sozinha!”, falei, usando toda a minha coragem. “Como sozinha? Você está louca? Eu sou seu noivo e não quero minha mulher andando solitária por aí!”, berrou ele do outro lado da linha. Segurei o fone longe do ouvido e fiquei olhando para a janela.
Fazia um sol lindo. Imaginava como poderia ser aquela praia, cheia de dunas, que tanto me falaram. O sol lá devia ser mais ardente e lindo que o da cidade grande. Dias depois, mesmo emburrado, Rafael me levou ao aeroporto.”Veja lá o que vai fazer! E me ligue quando chegar, o.k.?”, falou, mais preocupado em voltar ao banco e aplicar o dinheiro dos clientes que em me dar um adeus digno e apaixonado. Sozinha, naquela poltrona do avião, observei que quase toda a nave era ocupada por casais. Essa infeliz coincidência me fez chorar. Enquanto assoava o nariz, vi muitas Marias, Janetes, Renatas, Sílvias embaladas por seus Mários, Pedros, Mauros, Andrés e Fernandos. Eles se abraçavam e faziam promessas de amor. Olhavam pela janela, ansiosos por chegar logo ao paraíso para poder desfrutar de uma lua-demel inesquecível.
Eu, solitária, apenas servia de plateia para a felicidade deles. “A senhora quer um suco ou um refrigerante?”, me perguntou a aeromoça de enorme coque na cabeça. “Água!”, respondi. Foi a única palavra que disse antes de desembarcar no aeroporto de Vitória e pegar a condução que me levaria à Praia das Dunas. Cansada da viagem, adormeci naquele velho ônibus rumo ao meu destino de férias.
Acordei com um chacoalhão nos ombros. “Chegamos, moça!”, disse o motorista. Agradeci, peguei a mochila e saí da jardineira. Vi uma vila simples e bem cuidada. Crianças faziam algazarra numa pracinha mal iluminada. O cheiro do mar se misturava ao da mata numa sinfonia irresistível de aromas. Respirei fundo e caminhei em direção à minha pousada. Senti uma estranha sensação de que aquele lugar transformaria minha vida. Para sempre.