O cheiro do feno
Torão, o peão de rodeio mais famoso do país, conquista a jovem Daniela, socorrida por ele em um rodeio. Mas os dois se desentendem porque o rapaz não resiste às fãs

Ilustração: Dreamstime
Quando se aproximava o mês de junho, minha pacata cidade se transformava num lugar agitado. Por todos os lados, pipocavam festas juninas, bingos, shows e, principalmente, rodeios. E foi num deles, em 1998, que minha vida mudou completamente.
Eu tinha descoberto há um mês que estava grávida. E também que meu namorado me traia com uma de minhas melhores amigas. Nem preciso dizer que a única coisa que fazia era chorar: “Daniela, pare com isso, homem nenhum merece essa sua tristeza!”, dizia, minha mãe, sem saber, ainda, da minha gestação. Se ela soubesse a verdade…. Aliás, se meu pai, Seu Antônio, soubesse… Xiii, me matavam e davam um fim no desgraçado do Rodolfo também, aquele mulherengo, safado…
“Você transou com ele sem camisinha, Daniela. Você queria o que? Por sorte, só pegou barriga. Podia ter pego uma doença grave!”, falou a única amiga para quem contei meu calvário.
Lá estava eu, no Rodeio, sentada, comendo uma maçã do amor, do lado de fora da arena principal. Era a quinta maçã do amor que eu devorava. Os doces me consolavam nos momentos de tristeza e, por isso, achava que estava engordando também!
Não tinha avisado ninguém que eu ia naquele dia na festa. Queria ficar sozinha, pensando em alguma solução. Já estava comprando a sexta maçã do amor da noite quando notei um tumulto próximo a entrada da arena. Peguei o doce e corri para lá. “O que está acontecendo?”, perguntei a uma menina que chorava com um bloquinho na mão. “É o Torão! É o Torão”, gritava, histérica, apontando para alguém no meio da massa.
Fiquei na ponta dos pés e, finalmente, eu o vi. Alto, moreno, másculo e com um chapéu lindo. Ele sorria para as meninas, enquanto dava autógrafos. Equipes de TV e rádio tentavam se aproximar para uma entrevista. Seguranças lutavam para o afastar de todos e levá-lo para uma van que já o aguardava. “Torão, eu te amo!”, gritou, uma senhora, ao meu lado. Entrei no meio da bagunça e tentei me aproximar, como que hipnotizada. Por pura sorte ou persistência, cheguei mais perto dele que a maioria. Havia um clima de tragédia no ar.
A multidão se espremia, crianças saiam carregadas nos ombros dos pais e policiais começavam a tentar conter a histeria coletiva dos fãs de Torão. Uma menininha, com uma foto do rapaz, me deu sua ficha completa. “O Torão é o maior peão da região. Já montou todos os touros mais bravos. Ela namorou aquela famosa atriz de TV, que eu não lembro o nome, aquela loira…”, dizia, enquanto, ao mesmo tempo, tentava chegar mais perto do astro.
Aos poucos, contrai o vírus do Torão. Consegui, então, vê-lo por inteiro. Corpo atlético, calça justa, cinturão reluzente e uma bota, provavelmente, de um couro exótico. Charmoso, exalava sensualidade por todos os poros.
Finalmente, eu o toquei nos ombros. Venci um cordão de isolamento e, por alguns segundos, estava ligada e ele. Ele se virou e me viu. Deu um sorriso terno, mas nervoso ao mesmo tempo. Eu retribui. No gesto seguinte, quis dizer meu nome e cumprimentá-lo. Foi nesse momento, que senti uma pontada nas costas. Assustada com os cavalos das polícia, as pessoas começaram a correr e acabei caindo. Chorava de dor, enquanto sentia homens e mulheres passando por cima de mim, me pisoteando. A última coisa que fiz antes de desmaiar de agonia foi pensar em proteger o bebê que estava dentro de mim.