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Nunca te esquecerei – conto de Amor e Sexo

A viúva Anna sofre com a morte recente do marido, Paulo Roberto, e luta para aprender a viver sem seu grande amor

Por Redação M de Mulher
Atualizado em 20 jan 2020, 14h39 - Publicado em 29 nov 2010, 21h00

Anna não consegue superar a 
morte do marido, Paulo Roberto
Foto: Getty Images

Chovia muito forte, e o vidro do carro estava embaçado. No banco da frente, meus pais estavam silenciosos. Papai dirigia o veículo com a testa franzida e, vez ou outra, me olhava pelo retrovisor com ar preocupado. Mamãe suspirava e fazia o mesmo. Durante o percurso de volta a minha casa, ela se virava e tocava meus cabelos. “Você quer um lenço?”, me perguntou, assim que percebeu que eu voltara a chorar. Era o dia 16 de março de 2003, data em que um temporal caia sobre São Paulo. Data em que meu marido havia sido enterrado. 

Se você nunca passou por isso antes, dificilmente conseguirá entender como me sentia naquele dia. Era um misto de desespero, confusão mental, dor e ódio. Ódio pela vida e pelo meu destino: “Por que justo meu marido teria contraído aquela maldita doença? Por quê?!”, me perguntava, de segundo a segundo. Me sentia tão péssima que mal conseguia olhar para Laura, nossa única filha, de 5 anos, sentada ao meu lado no carro. 

Ela não chorava. Seus olhos verdes-claros tinham um brilho enigmático. Eu não conseguia traduzir exatamente o que ela sentia. Laura não era de muita conversa mesmo. Desde pequena, preferia ficar com suas bonecas do que gastar seu tempo ao meu lado e ao lado de Paulo Roberto. Eu, simplesmente, não conseguia, neste momento, encarar minha filha. 

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Finalmente, chegamos à casa de minha mãe. Era lá que passaríamos alguns dias, até que eu me sentisse pronta para voltar ao meu lar, agora sem meu marido. “O efeito do calmante deve passar logo. Acho bom você tomar mais um, minha filha”, preveniu-me mamãe, ao observar meu olhar vazio e morto. Continuei a encarando e subi as escadas em direção ao quarto em que costumava dormir quando era solteira. Laura ficou com a avó na sala. Me deitei na cama e fechei lentamente meus olhos. Senti um vulcão entrando em erupção dentro de mim. Uma sensação poderosa e estranha cresceu sobre todos os meus órgãos e tecidos. 

Sentia minhas veias e meu sangue, cada pulsação, cada batida. Meu coração batia forte, e minha respiração se tornou pesada. Agarrei-me aos travesseiros. “Meu Deus, ele morreu… Ele morreu!”, murmurei, chorando como jamais havia chorado em toda a minha vida. Nem no meu primeiro aborto havia ficado daquele jeito. “Paulo Roberto, volta para mim, volta para sua Anna!”, gritava a mim mesma. Meus pais acharam melhor não entrar no quarto e me deixar sozinha. 

Foi a melhor decisão que poderiam tomar. Não queria ver ninguém naquele momento. Era a hora de encarar minha solidão absoluta e exorcizar os demônios que poderiam me afligir para sempre. Aos poucos, meus olhos ficaram muito pesados, e minha garganta, cada vez mais seca. Então, parei de chorar. O segundo calmante começava a fazer efeito. Jamais havia tomado tanta medicação de tarja preta em toda a minha existência. Aos poucos, minhas pálpebras caíram. Senti no ar um cheiro de pinho. Parecia o da loção pós-barba que ele usava. Um certo conforto tomou conta de mim. O cheiro ficou ainda mais forte, e, por um instante, senti um toque suave em meus ombros, da mesma maneira como Paulo Roberto costumava me tocar. Adormeci alguns minutos depois, na minha primeira noite como viúva, imaginando que ele ainda poderia voltar, a qualquer momento, para os meus braços. 

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