Casei de preto em uma sexta-feira 13
Cumpri a promessa feita na infância e me casei com um vestido negro
Convidados e até o padre não conseguiram
esconder a cara de espanto!
Foto: Arquivo pessoal
Meus convidados não esconderam o espanto quando entrei de vestido preto na tradicional igreja paulistana Sagrado Coração de Jesus. Era uma sexta-feira 13. A emoção não me deixava ver as pessoas direito. Mas consegui enxergar a cara do Eduardo, meu noivo, lá no altar. E que cara! Surpreso, ele olhava para o padre, que brincou: “Se quiser fugir, ainda dá tempo”. Na hora, só ouvi os rumores. Quando as fotos chegaram, dei boas risadas com a cara de susto dos meus convidados.
Não tenho roupa branca. Aliás, já vesti preto até no Réveillon! Hoje, se eu passar o Ano-Novo na praia, evito o preto. Todo mundo fica olhando. Nesse caso, uso cor-de-rosa ou azul. Mas branco, nunca! Preto é minha cor preferida. Desde a adolescência eu dizia que queria me casar de preto. Mas só a minha mãe soube que eu iria cumprir a promessa.
E achou melhor eu não contar pra ninguém. Não falei nem pro meu pai. Muito menos pro Eduardo. Às vezes, homem é mais fofoqueiro que mulher. Para despistar, menti. Disse que o vestido ia ser marfim. Mas até o meu estilista torceu o nariz para o preto. Ele me fez provar vários vestidos coloridos – verde, azul, vermelho… Mas quando vesti o preto ele reconheceu: “Essa é a cor!”
Padre, é pecado casar de preto?
Só que antes de mandar costurar meu vestido preto eu precisava da bênção do padre. Fui falar com ele, que foi nosso professor na época do liceu. Eu e o Eduardo nos conhecemos na escola e namoramos por seis meses quando eu tinha 14 anos e ele 17. Mais tarde, aos 20 e 23, nos reencontramos, namoramos por quatro anos e resolvemos nos casar na igreja do colégio onde a gente se conheceu. Então, eu disse ao padre: “Tô pensando em casar com um vestido colorido”.
Não tive coragem de falar preto logo de cara. “Não gosto de cor clara. Tem que ser cor escura, assim, azul-marinho, verde-musgo, preto…” Ele não se opôs. Ao contrário, lembrou que em alguns vilarejos de Portugal e da Itália é tradição casar de vermelho ou de preto. “Por mim, não há problema. A Igreja não vai causar empecilho”.
Daí, eu mandei bala no vestido. A sexta-feira 13 não foi planejada. Meus pais faziam bodas de prata no dia 17 de fevereiro de 1998 e decidimos comemorar juntos. Só que dia 17 caía numa terça-feira – as pessoas não iriam aproveitar a festa. Fui com meu noivo à igreja para decidir a data. Estava tudo reservado. Até que o sacristão olhou melhor e disse:
– Tem essa sexta aqui, mas é dia 13. Ninguém marca neste dia.
– Por quê? Por causa da sexta-feira 13?
– É.
– Pra mim não tem problema. Pode marcar.
– Não faz isso! Dá azar. Nessa hora o Eduardo não se conteve e entrou na conversa:
– Ah, Vanice, se ele tá falando, é melhor a gente pensar em outra data. Insisti e saí da igreja de casamento marcado. Até o sacristão eu convenci.
A camisola da noite de núpcias era preta
Quando entregava o convite e as pessoas viam a data, perguntavam: “Sexta-feira 13?”. Eu dizia que não tinha superstição e o assunto morria ali. Mas o melhor foi que eu acabei gastando muito menos. Tive dois horários na igreja e só paguei por um – ninguém se casou naquela sexta. Tive desconto na decoração porque fui a única cliente do dia. Não precisei reservar o bufê com antecedência e escolhi o salão que eu queria. Sem estresse. Que sorte!
Meu casamento foi perfeito. A camisola da noite de núpcias? Sim, claro, era preta. Hoje, com oito anos e dez meses de casamento, somos muito felizes. No ano passado tivemos a Maria Luísa. Ela nasceu no dia 13 de novembro! O enxoval dela foi branco, lilás e rosa. Mas sinto falta de um pretinho básico. Ficaria chique, né?