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Cara-metade

Duas irmãs se apaixonam pelo mesmo homem e disputam o seu amor.

Por Redação M de Mulher
Atualizado em 21 jan 2020, 13h24 - Publicado em 24 out 2008, 21h00
Carminha Nunes (/)
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Ilustração: Dreamstime

“Vocês passaram na mesma faculdade em São Paulo?”, questionou minha mãe, olhando espantada para as duas filhas. “Sim, mãe”, respondi, abraçando-a carinhosamente. Kássia fez o mesmo. Depois de inúmeras tentativas, eu, Kátia, e minha irmã gêmea, Kássia, conseguimos ingressar numa das universidades mais famosas da capital paulista. Para quem nasceu numa cidadezinha nos confins do Sul, estudar naquela metrópole significava muito. “Minhas meninas, além de serem iguais, estarão juntas na sala de aula. Logo teremos duas publicitárias em casa”, comemorou Nair, a matriarca da família. Assim que papai chegou da plantação de uva, soube da boa-nova. Ele celebrou, mas demonstrou certa preocupação. “Vocês que se cuidem lá, viu? Muito juízo nessa cabeça”, falou seu Otílio, com seu charmoso e inconfundível sotaque italiano.

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Um mês antes do início das aulas, eu e Kássia preparávamos a mudança. Iríamos dividir um apartamento com Luna, nossa prima, em quem meus pais confiavam. Essa era uma das condições para que permitissem que suas únicas “bebês” se embrenhassem naquela cidade fascinante e, ao mesmo tempo, enorme e perigosa.

Um dia antes de partir, encontrei-me com Nicolau, um ex-namorado. Havíamos nos separado porque descobri que ele havia dado em cima de Kássia. “Achei que fosse você, meu anjo!”, justificou, na época. De fato, ele poderia ter mesmo nos confundido. Somos tão semelhantes que até meus pais se enrolam de vez em quando. A única e significativa diferença está no temperamento. Kássia é calma e eu, nervosinha e fácil de perder a cabeça. Acabei ficando com ele naquela noite, como prêmio de consolação por ter sido um namorado bom até o dia da separação. Kássia fez o mesmo com Rubão, um “ficante” dela, que, aliás, também já havia jogado suas asinhas para o meu lado. Provavelmente inventaria a mesma desculpa caso minha irmã soubesse da cafajestagem dele.

No aeroporto, o óbvio: toda a família chorando e rindo ao mesmo tempo. Claro que nós duas nos emocionamos. Meu coração batia forte, num misto de medo, ansiedade e vontade de chegar logo na tão falada São Paulo. Kássia, supertranqüila, despediu-se e sequer chorou quando abraçou meus pais. “Queria ser serena como você, irmã”, falei, já entrando na aeronave.

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O vôo foi bem rápido, sem grandes turbulências. Assim que vi da janelinha os prédios gigantes e aquele monte de obras, tive uma certeza: estava chegando ao meu verdadeiro destino. Instantes depois, nossa prima nos pegou no aeroporto e levou as duas garotas do Sul fascinadas e abobadas para o apartamento em que iríamos morar por quatro anos. Nem conversamos. Só olhávamos a paisagem urbana.

Chegamos um dia antes do início das aulas e não tivemos tempo de fazer um tour. Preferimos arrumar as coisas para o dia seguinte. À noite, durante o jantar, abrimos uma garrafa de vinho que meu pai nos dera de presente. Bebemos em homenagem à faculdade e à nossa vida dali para frente. Naquele momento, senti uma coisa dentro de mim, um presságio de que, a partir daquele brinde, minha vida iria mudar radicalmente. Só não sabia ainda se para a melhor.

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