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À procura de uma vida

Maria das Graças saiu do campo em busca de uma vida melhor na cidade. Porém, o destino foi cruel com ela.

Por Redação M de Mulher
Atualizado em 21 jan 2020, 13h28 - Publicado em 24 out 2008, 21h00
Carminha Nunes (/)
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Ilustração: Dreamstime

Maria dos Anjos. Quando minha mãe e meu pai me batizaram no cartório de nossa cidade, lá nos confins da Paraíba, escolheram esse nome para que eu tivesse uma vida abençoada. Cresci e confesso que, depois de tanto sofrimento naquele mundo árido e injusto, cheguei à conclusão de que tal tentativa foi em vão.

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Minha vida começou numa casinha de barro onde papai, mamãe, eu e mais quatro irmãos, dividíamos dois cômodos apertados e sempre cheios de insetos. E haja ironia do destino: se ali as moscas eram abundantes, faltava-nos o essencial… Comida!

Tentavamos tirar algo da lavoura, mas a natureza não ajudava. Dia após dia, o calor tórrido abria fendas profundas na terra poeirenta, que só servia para cultivar decepção. Magros, famintos e desiludidos, vivíamos à espera da água e da vida decente prometidas pelos homens do governo. Mas cadê? Eles vinham na eleição e depois sumiam, carregando junto nossas esperanças.

Seu Arlindo, meu pai, queria que seus três homens e suas duas meninas aprendessem a ler e escrever para escapar da semi-escravidão à qual ele se submetia diariamente. Sonhava que sua Maria dos Anjos fosse professora. Dessas que alfabetizam pessoas carentes, dessas que estendem a mão àqueles que precisam. Mas eu tinha fome. Não conseguia caminhar dez quilômetros para chegar à única escola da região. Minha magreza extrema fazia um contraste curioso com meus cabelos compridos e desalinhados. “Nossa Maria até parece uma galega, dessas da novela”, observava dona Gildicia, minha mãe, que aos 30 anos ja aparentava o dobro, gragas à sua existência carente, sofrida.

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Meus irmãos Dino, Dilson e Disley ajudavam papai no rogado. Eu e Dinora faxinávamos no vilarejo. No fim de tarde, sentávamos todos no terreno batido e seco em frente à casinha. Olhando para o horizonte vermelho, suspiravamos em silêncio e fazíamos inocentes planos. Por alguns instantes, aquele ritual nos libertava da realidade. Quase tão agradável quanto ir à casa de uma vizinha que tinha TV. Ver o mundo por aquele aparelho mágico compensava os quilômetros percorridos para assisti-lo.

Então, a televisão me deu a idéia de ir embora. Já estava com 18 anos e precisava tentar algo melhor que o destino cruel reservado a todas as mulheres dali. Meu pai, já muito doente, me apoiou. Minha mãe chorou ao me ver subir no caminhão.

Foi duro vê-la chorando e acenando, envolta em poeira, ao lado de papai. Mas meu estômago dolorido me incentivava a prosseguir. Em João Pessoa (PB), entreguei todas as minhas economias no guichê da rodoviária. Quando recebi o bilhete para São Paulo, sorri pela primeira vez em meses. “Maria dos Anjos, tua vida vai mudar”, jurei.

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