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Luedji Luna revela forças e inseguranças em dois novos discos

A cantora, que consagra seu protagonismo na música brasileira, também está prestes a estrear com seu primeiro papel no cinema

Por Beatriz Lourenço
18 jul 2025, 09h00
Após lançar dois álbuns em junho com apenas 18 dias de diferença, compostos por músicas que escancaram sentimentos íntimos, a cantora baiana percebeu que o mergulho foi tão profundo que serviu para entender não apenas a si mesma — mas também o que espera do mundo
Em junho, Luedji Luna lançou dois álbuns que revelaram sentimentos íntimos (Henrique Falci/Divulgação)
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Luedji Luna vive o fim de um ciclo marcado por uma palavra inconfundível: amor. Após lançar dois álbuns em junho com apenas 18 dias de diferença, compostos por músicas que escancaram sentimentos íntimos, a cantora baiana percebeu que o mergulho foi tão profundo que serviu para entender não apenas a si mesma — mas também o que espera do mundo. Em Antes Que a Terra Acabe e Um Mar Pra Cada Um, estão presentes suas memórias, cicatrizes e belezas que viu ao crescer. “É quase uma sessão de terapia aberta ao público”, brinca. 

Aos 38 anos, com 10 de carreira e cinco discos de estúdio, ela garantiu um trabalho maduro e conseguiu conquistar seu espaço na MPB contemporânea. Isso se deve, em grande parte, à uma sonoridade que foge do mainstream, misturando ritmos afro-brasileiros, R&B, blues e jazz com letras que refletem questões sociais e existenciais. “Não faço música de massa, mas também sei que não sou desconhecida. O que acho que tenho é prestígio e respeito — algo que nem todos os artistas, nem mesmo os mais famosos, garantem”, diz.

Aos 38 anos, com 10 de carreira e cinco discos de estúdio, ela garantiu um trabalho maduro e conseguiu conquistar seu espaço na MPB contemporânea
Aos 38 anos, com 10 de carreira e cinco discos de estúdio, ela garantiu um trabalho maduro e conseguiu conquistar seu espaço na MPB contemporânea (Henrique Falci/Divulgação)

Luedji, porém, vai além: se tornou símbolo de um movimento que reivindica espaço, voz e visibilidade para mulheres negras na cultura brasileira. Tanto que criou a festa Manto da Noite, um movimento que ajuda a trazer artistas negros aos holofotes. Prestes a estrear com seu primeiro papel no cinema no longa A Melhor Mãe do Mundo, de Anna Muylaert, Luedji sente que ainda tem muito chão pela frente: “Me vejo uma artista a longo prazo”. Sorte a nossa.

CLAUDIA: Como você define esse momento da sua carreira?

Estou completamente ocupada com o trabalho mas, ao mesmo tempo, muito feliz — fiquei mais de um ano construindo esses dois discos. Acredito que esse seja o fim de um ciclo focado no amor. Fiz tudo produzindo outras coisas: uma festa, uma turnê, a maternidade, viagens dentro e fora do país.

Não tive um ócio criativo, então o resultado foi atravessado por toda a minha vida profissional e pessoal. É um momento de muito cansaço, de muita correria, mas tenho certeza que tudo logo se estabiliza. 

Luedji Luna
Para a cantora, o amor é um tema recorrente que muda ao longo do tempo (Henrique Falci/Divulgação)
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CLAUDIA: Do começo da sua carreira até aqui você canta sobre o amor. Como ele foi se transformando ao longo do tempo?

Meu primeiro disco só tinha uma única canção de amor. Eu cantava mais sobre a experiência de migrar, de sair de Salvador e morar em São Paulo — foi quase como entrar em uma crise identitária. As músicas questionavam o lugar do corpo negro no Brasil. Era uma viagem pessoal, filosófica e política.

Três anos depois é que mergulho no amor. Coincidentemente, foi no ano em que me tornei mãe — pari um disco e um filho quase ao mesmo tempo. E ele era sobre mulheres negras amando e sendo amadas para construir um novo imaginário. Agora, estou completamente humana: revelando a minha intimidade, minhas contradições, meus defeitos, meus erros, meus medos, minhas inseguranças. 

CLAUDIA: Como é esse amor que você canta?

O amor em si não é mais maduro, mas estou mais madura para me compreender amando e sendo amada. Nesses dois discos, descubro que a necessidade de falar e escrever sobre amor nessa dimensão oceânica tem a ver com as minhas carências igualmente oceânicas.

Tem a ver com a minha subjetividade, com o ego, a necessidade de ser validada e me sentir bonita e desejada. Entender tudo isso me traz maturidade para amar. 

“Quando me comparo às minhas referências, Milton Nascimento, Gilberto Gil, Caetano Veloso, esses artistas que estão na estrada há tantos anos, me vejo uma artista a longo prazo. Quero ser uma artista dessa dimensão”, diz Luedji (Henrique Falci/Divulgação)
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CLAUDIA: Durante a nossa conversa, você falou muito sobre o oceano. Qual é a sua relação com a água?

Eu sou baiana, nascida e criada. O território modula a gente, eu aprendi a amar em Salvador. A primeira fonte de amor é a família, então lembro das viagens que fazíamos junto com primos, tios, avós… A gente alugava um barco e passeava pelas ilhas, cachoeiras, mares.

Lembro do meu pai me ensinando a nadar na Lagoa de Abaeté, dos dates ali na Bahia de Todos os Santos. Todos os meus afetos se construíram a partir dessa paisagem. Se fecho os olhos, tenho a fotografia da água presente.

CLAUDIA: Quais rituais ou práticas te ajudam a se manter centrada nesse momento de tanta criação e exposição?

Ano passado tive acesso ao uso de frequências sonoras — uso muito pra dormir. Também conheci o sound healing. Gostei tanto que coloquei no disco. Também amo ir para o terreiro porque fico em paz com a minha espiritualidade.

Além disso, amo não fazer nada. Minha casa é o lugar onde mais gosto de ficar, é onde me reabasteço. Mas meu trabalho não é conhecido o suficiente para me aposentar.

Em Antes Que a Terra Acabe e Um Mar Pra Cada Um, estão presentes suas memórias, cicatrizes e belezas que viu ao crescer.
Em “Antes Que a Terra Acabe” e “Um Mar Pra Cada Um”, estão presentes suas memórias, cicatrizes e belezas que viu ao crescer (Henrique Falci/Divulgação)
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CLAUDIA: Mas seu nome é referência na música brasileira, certo?

Minha carreira é um fenômeno porque não faço música muito pop. Quando digo que estou no começo é porque ainda tenho muito a conquistar e há muitas pessoas que não me conhecem. Quando me comparo às minhas referências, Milton Nascimento, Gilberto Gil, Caetano Veloso, esses artistas que estão na estrada há tantos anos, me vejo uma artista a longo prazo. Quero ser uma artista dessa dimensão.

CLAUDIA: A sua música sempre dialogou com questões raciais. Como esses elementos aparecem agora?

Não aparece de modo literal e nem tão direto. Mas toda a expressão de desejo, dessa vontade de amar, dessa carência, é fruto de violências e de escassez de amor. No final das contas, eu só estou querendo me humanizar com esses dois trabalhos. É uma resposta a um mundo que desumaniza corpos como o meu. Eu tenho como objeto de desejo um outro corpo preto ou uma mulher. Então as canções cumprem o papel de falar sobre o amor dissidente e o amor preto.

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