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Precisamos falar sobre pornografia com nossos filhos

Um estudo provou que jovens expostos a material explícito de violência sexual têm seis vezes mais possibilidade de se tornarem sexualmente agressivos.

Por Débora Stevaux Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 15 abr 2024, 16h24 - Publicado em 31 mar 2017, 23h20

O estudo “O Impacto da Pornografia Virtual em Adolescentes”, realizado em 2012 pela Universidade de West Chester, na Pensilvânia, revelou que jovens expostos a material explícito de violência sexual têm seis vezes mais possibilidade de se tornarem sexualmente agressivos do que adolescentes que não tiveram o mesmo contato. Essa alarmante estatística – uma das tantas reunidas pela pesquisa – provou que o consumo de pornografia na internet propicia mudanças drásticas no comportamento infanto-juvenil dos garotos.

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Esse problema, no entanto, não é de hoje. Susan Fiske, pesquisadora e professora de psicologia da Universidade Princeton (Nova Jersey, Estados Unidos), descobriu através de exames de ressonância magnética realizados em 2010 enquanto os homens assistiam pornografia que uma das regiões cerebrais mais importantes do corpo humano sofria modificações quando exposta a esse tipo de conteúdo. A área em questão diz respeito ao lobo frontal, responsável por atividades fundamentais como a fala e a escrita, além de ser encarregado de processar informações que são atribuídas às nossas noções básicas de certo/errado, bom/mau. A atividade cerebral comprovou também a tendência dos participantes do estudo em enxergar mulheres como meros objetos de prazer.

O que poderia parecer apenas um conglomerado de dados têm afetado diretamente a vida das mulheres: a Sociedade Australiana de Psicologia divulgou que de todos os crimes ocorridos no país, os adolescentes estão envolvidos em aproximadamente 20% dos estupros de mulheres adultas, e em 30 a 50% dos casos registrados de abusos sexuais praticados contra menores de idade.

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Mais do que moldar e condicionar o comportamento masculino desde cedo, a pornografia online acaba por influenciar diretamente em como as meninas enxergam a si mesmas no mundo. O recente levantamento “Não me envie esta foto!”, idealizado pelas ONGs australianas Our Watch e Plan Australia, ouviu 600 garotas com faixa etária entre 15 e 19 anos. A partir dos dados coletados, as organizações concluíram que 80% das jovens já receberam pedidos de seus amigos e namorados para que enviassem fotos nuas. Um dos fatores mais preocupantes, neste caso, é a pressão feita por eles para que elas cedam às práticas inspiradas no conteúdo sexualmente explícito.

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Uma das questões que aparecem no relatório distribuído às participantes foi: “Como você sabe que um menino gosta de você?”. A resposta mais chocante veio de uma garota de 15 anos: “Ele ainda quer falar com você depois que você faz sexo oral nele”, relembrou a vez em que o menino impôs essa condição para que ele a beijasse pela primeira vez.

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Em livre tradução para a língua portuguesa, “revenge porn” significa “pornografia de vingança”, e ocorre, geralmente, quando um companheiro com quem a vítima mantinha ou ainda mantém relações divulga conteúdo íntimo sem o consentimento. De acordo com dados divulgados pela organização sem fins lucrativos Safernet Brasil, que age em conjunto com a Polícia Federal para amparar mulheres que sofreram ataques virtuais, os casos quadruplicaram nos últimos anos. Apenas em 2014, foram contabilizadas 224 denúncias, quando comparadas com as estatísticas de 2012, em que foram registradas 48. E o mais drástico disso tudo é que a faixa etária de maior recorrência gira em torno de 13 a 15 anos.

Para a psicóloga Marcela Nicksa, o comportamento exploratório é típico do comportamento infantil: “Aliás, é fundamental que as crianças conheçam o próprio corpo. Mesmo quando desejam ‘conhecer’ o corpo do coleguinha, essa é uma situação que, quando ocorre na primeira infância, pode ser facilmente contornada.”

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“A partir dos 9 ou 10 anos, as crianças começam a apresentar uma maior curiosidade em relação ao assunto, mas isso nem sempre é uma regra. Recentemente, uma paciente comentou que flagrou o filho de sete anos procurando por material sexualmente explícito em seu iPad. Outro fator que facilita muito o contato dos pequenos com esse tipo de conteúdo é o acesso irrestrito à tecnologia”, explica Verônica Lin, psicóloga familiar à frente do Instituto I9C, sobre o fato de o desenvolvimento e interesse sexual acontecerem cada vez mais prematuros.

Doze por cento de todos os sites disponíveis hoje na internet oferecem conteúdo sexualmente explícito. Entre suas categorias, subdivididas pelos “tipos” de mulher expostas durante o ato — negras, brancas, japonesas, grávidas, loiras, latinas —, a “teen” ou “novinha” é a mais buscada, segundo divulgação do site Pornhub.

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“É durante a infância que nossos conceitos mais básicos são formados, por isso é muito importante que a criança ou o adolescente não atrele ao sexo valores disseminados pela pornografia como a violência, o egoísmo [porque neste caso, apenas o homem tem direito de sentir prazer], a submissão e a banalização. O diálogo é, sempre, a melhor saída para isso”, explica Verônica, que ainda acrescenta: “Proibir ou brigar não surtirá o efeito necessário, muito pelo contrário, apenas despertará na criança ainda mais curiosidade. É muito importante que os pais conversem com os pequenos sobre a intimidade, o amor, a troca, o afeto, que deve permear a relação sexual. E impor limites através do diálogo, entender o porquê do filho estar buscando por isso, estar sempre aberta às necessidades e dúvidas dele, por mais cabulosas que sejam.”

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