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Depoimento: “Depressão pós-parto é uma dor que ninguém entende”

Maristela Ferreira, 36 anos, contou a CLAUDIA sobre os momentos difíceis que viveu após o parto de Gahel - e como essa fase foi transformadora

Por Fernanda Morelli Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
22 dez 2016, 20h52

A arteterapeuta Maristela Ferreira, de 36 anos, vivenciou a depressão pós-parto e, aqui, conta sua experiência com a intenção de ajudar outras mulheres que atravessam momentos semelhantes.

“Meu marido sempre quis ser pai – mais do que eu queria ser mãe. Muitas vezes, eu imaginei, projetei, mas nunca quis tanto. Quando Gahel nasceu, há dois anos, tive que lidar com uma situação que nunca pensei que fosse passar. Logo após aquela farra na maternidade, em que todo mundo vai visitar e é tudo lindo, comecei a sentir o desespero do que estava por vir.

Depois dos primeiros dias, a vida de todo mundo – inclusive do pai – volta ao normal. Exceto a da mãe. A partir dali, são meses e meses, em que está só você e a criança. E é preciso estar 100% disponível – além de dar conta de tudo sozinha: cuidar de uma criança que, até então, era um “desconhecido’. E, portanto, aprender a sentir amor por ele.

Você também não está em seu melhor momento. A mãe passa por transformações hormonais, mas também físicas. Você não cabe nas suas roupas, nem nas que usava antes da gravidez nem nas que usou naqueles nove meses, está visivelmente cansada, não tem tempo de se cuidar… A autoestima vai lá embaixo. Eu, por exemplo, só sentia cansaço, tristeza e culpa.

A verdade é que, nesta situação em que eu estava, gostaria de me afastar um pouco, ficar longe. Sentia que precisava de espaço. Você fica privada de muitas coisas, que até parecem bobagem. Não dá para tomar banho, por exemplo. Você tem que esperar alguém vir ajudar a olhar o neném para poder tomar banho.

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Com tudo isso, adoeci. Tive momentos em que não queria pegá-lo no colo, não queria fazer nada, queria apenas ficar sozinha. Eu estava exausta. Não aguentava mais.

A gente aprende que, teoricamente, a maternidade é para ser um momento feliz, de curtir o seu bebê – aquele que só veio para acrescentar em sua vida. Mas e se você não consegue? Se o cansaço, a exaustão, as dores, os medos e tantas outras questões falam mais alto? Como bem definiu uma amiga minha, ‘parece que uma coisa ruim entra dentro de você’. E a maior dor, para mim, era ver a forma como as pessoas reagiam

Mas como falar sobre um assunto tão romantizado sem que os outros encarem como frescura, exagero ou mesmo maldade? Como explicar esse sentimento, quando tudo o que os outros veem é uma criança linda e saudável ao meu lado? Alguns diziam que era normal, que logo iria passar, que eram os hormônios da gravidez. Mas a verdade é que não passa sozinho. Não passa assim, de uma hora para outra. Quem é mãe e já sentiu isso sabe: não é para todo mundo que você pode falar. Ninguém entende. Eu mesma fui ao psicológico e no psiquiatra. Minha mãe me deu muito apoio. Tomei uma medicação por pouco tempo, mas mergulhei em terapia.

Busquei ajuda profissional e espiritual. Mas foi escrevendo que encontrei uma luz para a cura de toda a ansiedade, depressão e solidão que a maternidade me trouxe. Comecei escrevendo apenas para os amigos, no Facebook, e aquilo me fez tão bem que decidi fazer um blog. Escrevo, ali, tudo o que eu gostaria de conversar com ele, como se fosse tudo mágico, leve e real. Publico também várias fotos do meu bebê, que eu amo tirar.

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Outra atitude que me ajudou foi, enquanto estava sozinha em casa, imaginar como seriam minhas conversas com ele. Como seria se a gente pudesse interagir, se eu pudesse conversar com ele sobre meus questionamentos, meus anseios sobre a vida. Transcrevi nossos supostos diálogos no site e isso me fez muito bem. Entendi que levar a minha imaginação para a realidade de um futuro me fez ver que aquilo tudo poderia, sim, passar. Que era uma fase e que eu precisava me transformar também. Eu com ele. Eu e ele. Nós dois juntos.

A ligação entre mãe e filho é extremamente forte. A gente precisa se reinventar mesmo. Como arteterapeuta, resolvi que iria levar essa questão a sério. Foi quando pensei no meu novo projeto, que já tem um nome: Projeto Gestar, onde quero dar voz a essas mães com depressão pós-parto que, na maioria das vezes, fica sozinha ou não é compreendida. É muito difícil você procurar alguém que te escute sem julgamentos, sem falar “deixa para lá”. E se a gente não cuida, a dor se prolonga demais.

Olho com muito carinho, porque eu conheço essa dor. Descobri que você vai encontrando esse amor, vai aprendendo a senti-lo e, quando ele finalmente floresce, é maravilhoso. E esse relacionamento precisa ser tratado com muito cuidado.

Escrevo, em meu blog, com toda sinceridade, porque sei que um dia meu filho vai ler e saber exatamente o quanto sua mãe o ama. Saberá que, mesmo com um início de relacionamento tão difícil e doloroso, a experiência da maternidade é transformadora”.

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Depoimento dado à repórter Fernanda Morelli.

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