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Consultor indica como viver neste mundo veloz sem perder o ritmo

Não dá mais para namorar, criar os filhos, trabalhar e fazer planos como antes. O consultor Ricardo Guimarães indica maneiras para viver neste mundo veloz, cheio de incertezas - sem perder o ritmo

Por Patrícia Zaidan Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 11h32 - Publicado em 1 set 2013, 22h00

Ricardo Guimarães acredita que à mulher cabe reivindicar seu lugar no mundo
Foto: Júlia Rodrigues

As plateias que ouviam Ricardo Guimarães eram formadas exclusivamente por gente do mundo dos negócios. Hoje, ele dá palestras para públicos diversos – e já não fala só de identidade de marcas, sua especialidade, mas de humanidade. Mineiro de Barbacena, casado, quatro filhos e três netos, não gosta que diminuam sua idade por orgulhar-se dos 64 anos. “Foi custoso chegar até aqui; não abro mão de nada”, diz ele, no escritório da Thymus Branding, que preside. Talvez seu maior trunfo para se comunicar seja a capacidade de criar frases de efeito e metáforas para conceitos complexos da vida – que, para ele, anda cada vez mais interessante. Afinal, as pessoas estão menos solitárias graças à tecnologia, desapareceu quem dita moda, beleza ou comportamentos e ficamos livres para buscar o que queremos. Aqui, Ricardo reflete sobre os novos tempos, que compara à cama elástica. Para não cair, é preciso equilíbrio e disposição para se adaptar constantemente.

Você foi treinado para deixar de ser só canhoto?

Fui, na escola. As irmãs amarravam minha mão esquerda porque era feio ser canhoto.

Um menino tratado assim aprende a se virar…

Talvez essa tenha sido a principal causa da minha inquietação. Nunca aceitei o mundo feito para destros. Sempre achei que devia estar certo e ele errado. Ao fazer 30 anos, ganhei um saca-rolha para canhoto e vi que tinha razão. Coloquei na garrafa e senti um conforto muscular ex¬traordinário, que desceu ao estômago e saiu como um choro. Pela primeira vez, um objeto estava de acordo com minha força e destreza. Veja só, a palavra destreza vem de fazer as coisas certas. Canhoto, em qualquer língua, é pejorativo. Em português, canhos vem do grego, é demônio. Em italiano, sinistro. Em inglês, left, abandonado. Tem a ver com o abandono da mulher também, o desprestígio. Canhota, na Idade Média, era queimada como bruxa.

Você diz que a maior violência contra a mulher é viver em um mundo desenhado para homens. Somos as canhotas?

De certa forma, sim. O mundo foi desenhado com base no princípio masculino, com um ritmo contínuo, sem ciclos, como uma linha de montagem. O trabalho, as leis, tudo é adequado à natureza do homem. Para se referir ao que aconteceu, usa-se a palavra History, que significa a história dele. Se fosse contada por ela, seria Herstory. A mulher foi educada para aceitar o mundo como ele é, e não para deixar as coisas de acordo consigo mesma. O que lhe cabe é reivindicar um lugar nele. A grande tese das feministas é: você não tem de lutar pelos mesmos direitos, mas por outros, específicos das mulheres.

Em um mundo tão veloz, como você ressalta, todas as coisas precisam de novo significado. Por quê?

Agora, que tudo é volátil, dependemos mais do significado das coisas do que delas. O ser humano é simbólico, vê significado em tudo. E, quando não vê, se desumaniza. A cruz é um símbolo, não é a própria cruz. No batizado, o óleo no peito e a água na cabeça lembram purificação. O dinheiro, quando não se transforma, perde o sentido. Ele deve proporcionar mais estudo, moradia melhor, promover a evolução. Do contrário, com muito dinheiro, se é pobre. Essa ideia está ligada à sustentabilidade: o que você consome tem importância ou é só coisa?

Porque tudo é veloz, as pessoas fazem muitas coisas ao mesmo tempo. A aceleração trouxe ganhos?

As pessoas estão melhores, sim. Meus filhos são seres humanos mais requintados do que os pais. Mais íntegros, atendem menos às demandas externas. Entram em contato com seus desejos, exercem sua individualidade na sociedade. Um exemplo simples é a moda. Há alternativas para se expressar. A ditadura não acontece mais, acabou o padrão. Como tudo é possível, qual é o seu critério? Escolha a sua expressão. Isso vale para a religião e o comportamento sexual. A pessoa consciente de sua identidade opta em sintonia com a sua felicidade. Por isso troca-se tanto de par – e é saudável experimentar. Entrar em empregos e sair deles, em curto tempo, não é mais sinal de insegurança e de crise.

Em que os meios digitais influenciaram? Por que diz que acabou o off e temos de nos preparar para viver em on?

O modelo era piramidal, os poucos de cima – em geral, homens – diziam o que era para fazer aqui embaixo. Hoje a sociedade é horizontal, vivemos em rede. A tecnologia traz vivência rápida, conecta, dá poder ao indivíduo, não à instituição. Exige mais transparência e exposição. Acabou o off, o escondido. Agora tudo é on. E ninguém mais determina o que é arte. O grafite e o hip hop da periferia têm tanto valor quanto a arte do centro. A diversidade permeia as relações. A excitação que fico com tanta coisa disponível é impressionante. Minha geração tinha de pegar avião para ver o Louvre, em Paris. Hoje, com um iPad nos joelhos, você conhece tudo. E divide o que conheceu.

Gisele Bündchen posou para uma campanha de jeans sem maquiagem, defendeu o fim do Photoshop e a mulher real. Ela influenciará outras?

Da perfeição mentirosa, estamos migrando para a beleza da imperfeição, que é de verdade, mais humana, dá satisfação. É difícil, porque está na contramão dos interesses de quem ganha dinheiro vendendo perfeição e daqueles que não querem se dar ao trabalho de se aprimorar. Mas o movimento não tem volta. Estamos na direção do futuro, onde estética é ética.

Você descreve seres individuais, que estão experimentando, buscando seus desejos. Ao mesmo tempo, diz que o feminino é gregário. Contradição?

São coisas que se completam. É preciso acabar com a dua¬lidade – uma coisa ou outra – e com o raciocínio ligado ao espaço, pois em uma cadeira só cabe um corpo. Devemos nos relacionar no tempo, que é intangível e permite mais liberdade. Nossa cabeça está programada para dividir; aqui e agora, eu trabalho; lá fora e mais tarde, eu vou me divertir. Essa separação é espacial. No tempo, você pode se divertir e produzir, somar, integrar os opostos, tudo.

O que quer dizer quando fala que vivemos tempos de incertezas crescentes?

Quero dizer que o mundo está mutante e móvel. Não se trata mais de um terreno sólido, estável, em que você se sentia relaxado. Como permanecer em cima de uma coisa que está se alterando o tempo todo? É como dançar em uma cama elástica. Se não achar o seu eixo, seu equilíbrio para ficar e se divertir, você cai fora ou perde o par. Há novidades chegando sem parar. E você precisa replanejar, negociar rapidamente com o contexto.

E isso bagunça o conceito de confiança. Ficou mais difícil estabelecer relações perenes?

Confiança não é saber onde o outro está o tempo todo. Não é o outro fazer tudo o que você espera. Começa na autoconfiança. Se depositar a responsabilidade só no seu parceiro, no seu filho, não construirá nada duradouro. Mas é bom lembrar: não existe 100% de confiança. Os contratos de fidelidade, de compromisso, de troca vão existir sempre. Porém, sem garantia. Com as mudanças, eles ficam ultrapassados, não servem mais para regular a relação, precisam de revisão. Para não ficar muito angustiada, observe a natureza, que é mutante.

Você se incomoda quando dizem que é um homem com alma feminina?

Feminino é a característica da mulher? Ou um princípio da vida? Talvez o homem seja sensível, tenha facilidade de perceber o outro. Muitas vezes, disseram isso a meu respeito e não me incomodei. Tenho uma alma feminina, sim, e uma masculina. Ninguém é uma coisa só.
 

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