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Por que beber vinho tinto e comer chocolate pode ser bom para a saúde?

Estudiosos deram um grande passo nas pesquisas relativas à ação dos micróbios da nossa barriga e como eles poderiam mudar a nossa vida

Por Redação CLAUDIA
Atualizado em 28 out 2016, 14h38 - Publicado em 2 Maio 2016, 16h10

Ter uma alimentação diversa é muito bom para a nossa barriga – e o vinho tinto pode nos ajudar nesta missão. Em dois estudos publicados no periódico científico Thursday in Science, pesquisadores da Bélgica e dos Países Baixos chegaram ao mais abrangente trabalho sobre os micróbios que habitam o nosso corpo. Após realizar um análise das fezes de vários voluntários, eles foram capazes de mapear as espécies de bactérias que vivem dentro de nossas barrigas – e relacionar algumas dessas bactérias a fatores alimentares cotidianos.  

Alguns cientistas acreditam na possibilidade de usar estes micróbios no diagnóstico e tratamento de doenças que possam estar ligadas a eles. Nós continuamos sem saber o “melhor” microbioma para todos os humanos, ou se existe ou não um microbioma que possa ser considerado “normal”. Então, vamos ter que esperar mais um pouco para saber qual seria a fórmula do “cocô perfeito”. Mas mesmo assim, é impossível desconsiderar o grande passo dado pelos cientistas em direção ao entendimento de como esses seres tão pequenininhos – e aparentemente ineficientes – podem provocar mudanças consideráveis em nossas vidas. 

O primeiro estudo, liderado por Jereon Raes, do Instituto de Biotecnologia de Flandres, aborda o que podemos chamar de Flemish Gut Flora Project, que em livre tradução para o português, significa Projeto da Flora Intestinal Flamenga, que coletou amostra de fezes de cerca de 3500 voluntários. “O que significa um montão, porque apenas Flandres possui uma população de 6 milhões de habitantes, e não era um projeto que reembolsava os interessados em doarem as amostras. Eles apenas participaram porque se interessaram muito pela discussão científica”, comentou Jereon ao Washington Post. Assim, foram analisadas 1100 tipos de cocô diferentes e as descobertas foram cruzadas com o programa de vigilância de saúde holandês LifeLines – conhecido por ser a principal fonte de dados para a segunda pesquisa, liderada pela Universidade de Groningen Cisca Wijmenga.

“Talvez por uma perspectiva americana, os belgas e holandeses são muito semelhantes entre si”, comentou o cientista que completou com uma risadinha: “É verídico se você for enxergar pelo quesito de distância geográfica, mas geneticamente, estes grupos se diferem um pouquinho, e seus hábitos alimentares também são diferentes.” O estudioso acredita que os microbiomas, que são fortemente influenciados pela dieta de cada um, talvez se diferenciem um pouco em países ocidentais. Mas acredita que os resultados de ambos os projetos provavelmente possam ser aplicados na população europeia, e muito provavelmente, em toda a América também. 

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Jereon e seus companheiros de trabalho utilizaram os dados dos holandeses para confirmar a influência de 92% nos 69 fatores identificados nos belgas, o que já significa uma boa previsão na exatidão dos testes. Mas quando os lugares são muito distantes, como é o caso da cidade americana de Nova Iorque e a capital Washington, foram encontradas diferenças significativas. “Na Bélgica, encontramos associações entre cerveja e chocolate, enquanto na Holanda, a mais comum era relacionada a produtos derivados de leite”, completou ele: “Nós ficamos muito animados ao ver isso, porque é muito importante que haja essa distinção alimentar – nós gostamos do nosso chocolate. E eles de seu leite.” 

Os dois estudos provaram que até mesmo pequenas mudanças na dieta podem surtir um efeito considerável. No caso de Wijmenga, enquanto alguns derivados de leite, como o iogurte e a manteiga, foram responsáveis por aumentar a diversidade de espécies presentes na flora intestinal, alimentos muito engordurados tendem a diminuir essa diversidade. Vinho tinto e café também são capazes de aumentar a biodiversidade intestinal também. Já comidas com alto teor calórico tiveram o efeito oposto. Um fato que surpreendeu a todos foi o de que bebês não são influenciados ao ingerir o leite materno, pelo menos em seus pequenos intestinos. 

“Encontramos um total de 60 fatores dietéticos que influenciam a diversidade. O que isto significa exatamente ainda é difícil de dizer,” comunicou Alexandra Zhernakova, do Centro Médico da Universidade de Groningen, a primeira autora do artigo da Science, que completou: “Mas há uma boa correlação entre a diversidade e saúde: uma maior diversidade será sempre melhor.” E devemos nos animar pois é sempre bom ouvir uma boa razão para comer chocolate e vinho – mesmo que com moderação, é claro. Mas alguns resultados podem ser mais difíceis de engolir: Zhernakova e seus colegas também observaram 19 medicamentos diferentes, alguns deles muito usados, que afetam negativamente a flora intestinal.

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Não é de se estranhar o fato de que os antibióticos sufoquem a diversidade bacteriana, e não apenas os cientistas se surpreendem ao ver o efeito de laxantes no nosso corpo. Mas medicações anti-histamínicas, hormonais e anti-inflamatórios foram implicados como positivos no quesito de diversidade da flora, conforme foram identificados pelos pesquisadores. Mas atenção, tudo o que foi dito até agora não significa que você deve devorar uma quantidade enorme de chocolate e jogar fora toda os remédios que você têm em casa em nome de uma melhora considerável na flora intestinal. “Por enquanto, o que fizemos até agora foram apenas associações”, disse Jereon: “Nós realmente não sabemos a causa ou a consequência delas. Pode ser apenas a minha opinião, mas acredito que a boa ciência dá mais perguntas do que respostas, e esses 69 fatores que encontramos são realmente apenas uma nova lista de perguntas a responder.”

Porém, mesmo que a descoberta dos fatores seja realmente útil, estes são responsáveis ​​por uma pequena percentagem da variação espécies de micróbios: a causadora da maior parte da variação de uma flora intestinal ainda é inexplicável. E pode ter a ver com o estilo de vida de cada um, mas como ainda não foram identificados, o papel de protagonista nesta história é provavelmente a genética. De qualquer forma, enquanto a diversidade parece estar relacionada à saúde geral de um indivíduo, os pesquisadores ainda não têm certeza se há apenas um caminho – ou até uma dúzia de alternativas diferentes – para se ter um microbioma considerado ideal e saudável. 

“Talvez não haja uma composição perfeita da flora intestinal”, disse o estudioso, acrescentando sua frustração por não ter identificado um intestino considerado perfeito. Ele espera que a análise de voluntários de seu país que não participaram anteriormente ajude, e que estudos tão abrangentes como estes inspirem outras comunidades científicas de vários lugares do mundo a disponibilizarem os dados também. “Essas pesquisas e outras análogas, feitas em outros países, estão mostrando crescimento do campo”, finalizou o pesquisador. “Trabalhar nesta área tem sido muito animador, ainda mais pelo grande interesse dos voluntários e da comunidade científica, mas ao mesmo, às vezes precisamos focar em conceitos básicos, o que é um exercício necessário para nós que produziremos diagnósticos e medicamentos para indivíduos com deficiências no microbioma.”

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