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Quero parar de menstruar. Como isso afetará o meu corpo?

Tudo o que você precisa saber caso queira suspender a menstruação

Por Débora Stevaux Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
24 mar 2017, 18h45

“Mulher é bicho esquisito, todo mês sangra”, disse a cantora paulistana Rita Lee na canção Cor de Rosa Choque, de 1982, sobre o sangramento decorrente da descamação do endométrio, parede interna do útero, que ainda é tabu em diversas culturas ao redor do mundo. Em suma, a menstruação.

Na Índia, por exemplo, aquelas que estão no período menstrual, são tratadas como “intocáveis”, impuras e são proibidas de frequentar espaços reservados ao convívio coletivo — além de haver um silêncio tácito sobre temas relacionados à saúde feminina no território indiano, como o uso de absorventes.

Mas, mesmo em países ocidentais, como o Brasil, onde muito se fala sobre o assunto, “estar de chico” é considerado algo ruim para a maioria das mulheres, tanto é que algumas optam por interromper o fluxo menstrual.

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Por que algumas decidem parar de sangrar

 Os motivos para a suspensão são muitos e variam de mulher para mulher. No entanto, a grande parte tem a ver com os sintomas da tensão disfórica pré-menstrual, que nada mais é que uma TPM mais intensa. “Cólica forte, enxaqueca e insônia são os mais comuns.

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Outro fator que deve ser levado em conta é a escolha recorrente das atletas em suspender a menstruação por acreditarem que afeta seu desempenho profissional, além do medo de vazamentos. De um modo geral, o fenômeno vem ganhando muita força no Brasil e nos Estados Unidos”, explica o Dr. Nilson Roberto de Melo, ginecologista e professor associado de ginecologia pela Faculdade de Medicina da USP.

Já a Dra. Halana Faria, ginecologista e obstetra, mestre pela Faculdade de Saúde Pública (USP) e integrante do Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde, acredita que há um aura pessimista alimentada socialmente com relação ao corpo feminino, especificamente no caso da menstruação. “Há muita propaganda relacionada aos benefícios da suspensão da menstruação para mulheres modernas. É preciso que elas tenham acesso à informação sobre que interesses a indústria farmacêutica tem sobre esse discurso”.

“É certo que muitas se beneficiam da suspensão da menstruação, principalmente as que não têm como controlar suas cólicas, ou são portadoras de endometriose, problemas hematológicos e que possuem outras contra-indicações. Cada vez mais tenho visto mulheres buscando entender a si mesmas por meio dos ciclos, usá-los como oportunidade de autoconhecimento e considero isso muito positivo, mas nem todas buscarão este caminho. Por isso, é preciso respeitar a escolha de cada uma, além de reconhecer suas próprias necessidades” explica.

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Métodos disponíveis

Hoje, o principal e mais frequente método para se ver livre do sangramento mensal é a pílula anticoncepcional contínua ou cíclica – Ela é diferente da pílula anticoncepcional comum, que não deve ser tomada sem interrupção. Não à toa, existem mais de 120 marcas  desse medicamento disponíveis no mercado. Outra forma de interromper o fluxo é por meio do DIU de levonorgestrel, um implante anticoncepcional que é inserido na parte interna do braço e têm cinco anos de duração e também por uma injeção trimestral de acetato de medroxiprogesterona.

“Também é possível fazer um procedimento videohisteroscopia que, com o auxílio de um aparelho, possibilita a queima da parede endometrial. Nesse caso, a cirurgia é indicada para pacientes que possuem altíssimo risco de endometriose. A desvantagem é que ela não conseguirá engravidar mais, pois o espermatozóide dificilmente conseguirá entrar no útero, e mesmo que o óvulo seja fecundado, é praticamente impossível que ele se fixe na camada uterina”, explica o Dr. Nilson.

Faz mal ficar sem menstruar?

Infelizmente, não existe uma resposta definitiva, ela varia de profissional para profissional.Se para a Dra. Faria, a menstruação e suas características — cor, fluxo, intensidade e duração — conferem informações importantes sobre como está a saúde das mulheres, para o Dr. Nilson, ela apenas é um sinal de “não-gravidez”: “Tanto não é necessária que a primeira menarca vem apenas na adolescência.” Para ele, a interrupção da menstruação não traz malefícios ou efeitos colaterais, mas sim o método utilizado para tal.

Já o posicionamento da Dra. Faria é outro: “Pode ser mais difícil percebermos a existência de problemas mais graves como disfunções endocrinológicos, ovarianas, cerebrais e até alimentares porque o funcionamento do ciclo menstrual é um sinal importante de saúde e vitalidade.”

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Como funciona a pílula, afinal?

Basicamente, a pílula anticoncepcional, que chegou ao mercado pela primeira vez na década de 1960 e hoje é utilizada por cem milhões de mulheres em todo o mundo, atua de modo a inibir a hipófise. Ela é a glândula cerebral que tem a função de liberar os hormônios Folículo Hormônio Estimulante (FSH) e Hormônio Luteinizante (LH), responsáveis pela produção de estrógeno e progesterona no ovário, agentes do processo de ovulação e da preparação do útero para a fecundação. “Dessa forma, os hormônios sintéticos contidos no medicamento acabam por ‘enganar’ o cérebro que não produz mais as substâncias LH e FSH, e com a ausência de ambos, o desenvolvimento dos folículos ovarianos é descontinuado e a ovulação não acontece”, explica o Dr.

Cada pílula difere uma da outra pela dosagem dos hormônios, como também pelo tipo estrogênio e progesterona presentes em sua composição. “Caso a mulher tenha mais de 35 anos, seja tabagista e queira interromper o sangramento, não é indicado, porque a associação da pílula com o cigarro aumenta o risco de doenças cardiovasculares”, diz o professor. No entanto, Dra. Halana recomenda para mulheres fumantes que queiram muito interromper o fluxo que usem pílula apenas com progesterona. Cada caso, porém, deve ser avaliado por um profissional em uma consulta médica.

A pílula anticoncepcional e os casos de trombose 

“Caso a paciente faça tratamento com a pílula combinada, isto é, que possui em sua composição os dois hormônios, o risco dela desenvolver trombose, segundo um novo e respeitoso estudo publicado em 2007, continua sendo de três a quatro vezes menor do que se ela engravidasse. No pós-parto, esse risco se torna até dez vezes menor”, afirma o médico, que cita a diminuição em 50% de câncer de ovário como um dos benefícios da droga.

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Entretanto, as recentes notícias e postagens em redes sociais sobre o desenvolvimento de coágulos em diversos lugares do corpo de jovens que fizeram ou fazem uso do remédio tem assustado. Para a Dra.Halana, a ameaça em mulheres que não possuem histórico familiar é minúscula: “Esse evento adverso associado à pílula divulgado por muitas mulheres nas redes sociais serviu de estopim para que as mulheres passassem a se questionar sobre como recebem prescrição dessa medicação por anos a fio sem serem informadas sobre seus riscos. E são eles justamente que levam mulheres a buscarem métodos contraceptivos não hormonais hoje em dia.”

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O que é o “escape”?

Também chamado de “borra” ou “mancha”, é um pequeno sangramento, que também advém da camada endometrial. Ele geralmente acontece devido à ingestão de pílulas com dose menor de hormônio. O uso sem interrupção da cartela, também aumenta as chances de ocorrer.

“Uma mulher que toma pílula contínua para não menstruar, no final do primeiro mês, tem uma probabilidade de 60% de não sangrar; no final do segundo mês, as chances são de 50%, no terceiro, elas diminuem ainda mais. Há uma progressão, o que não indica necessariamente que será igual de mulher para mulher”, assegura o Doutor que usa o exemplo de um carro 4×4 em suas pacientes: “Se você sangrou no primeiro dia, continue tomando; no segundo também? Continue. No terceiro? Sim. Se no quarto dia o escape não cessou, pare por quatro dias, há grandes chances de parar. Caso continue, procure seu médico.”

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Adolescentes devem ser submetidas à suspensão menstrual?

A resposta é simples e direta: não. “Como o corpo feminino ainda está em formação nessa etapa da vida, é extremamente prejudicial que as meninas sejam submetidas a esses métodos”, explica a Dra. Faria. Além disso, o estrógeno, um dos hormônios responsáveis pela saúde dos ossos, é presente em uma dose muito inferior nos medicamentos contraceptivos, portanto, ingeri-los muito cedo pode desencadear problemas na formação óssea da garota.

“Tanto contraceptivos contendo progesterona isoladamente, quanto os que possuem baixa dose de estrogênio têm efeito sobre os ossos quando usados em fases iniciais da adolescência e por longos períodos. Por isso é extremamente necessário conversar com adolescentes e suas mães sobre opções não hormonais”, esclarece ela.

Um outro caminho

É imprescindível que, antes de qualquer decisão, as mulheres que desejam suspender a menstruação – por se enquadrarem em alguns dos sintomas citados ou por opção pessoal – passem por uma avaliação com um profissional de saúde. Ele irá investigar através de sua história, exames físicos e complementares, as possíveis causas das cólicas muito fortes, com sintomas urinários e intestinais associados.

“Antes de partir para a automedicação ou para escolhas mais drásticas, aconselho que as pacientes que sofrem de dores muito fortes durante o período menstrual busquem praticar ioga e atividades físicas, além de se atentarem para uma alimentação adequada, além do controle do estresse e ansiedade. Afinal, muitos aspectos da vida das mulheres podem contribuir para sintomas físicos”, completa a ginecologista.

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