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Coluna da Ana: “Enfrentar o câncer faz parte do que sou hoje”

Resolvo que vou voltar à vida de antes, retomar minha antiga rotina. Percebo então que não dá: penetrou na minha pele e é parte do que sou hoje

Por Ana Barbosa (colaboradora)
31 out 2016, 13h12

Hoje acordei e fiquei na cama. Preguiça imensa, sem forças nem vontade de levantar. Afinal meu tratamento chegou ao final e começam agora as merecidas férias. Acho que posso me dar este luxo.

Pensar que ainda não faz um ano… 15 de outubro de 2015, dia seguinte ao meu aniversário de sessenta anos. Nesse dia recebi os resultados dos primeiros exames que realizei, e aí fui encaminhada para biópsia. Uma agulha gigante no meu peito, que presentão!

Desde então, oito meses se passaram, dedicados integralmente à doença e sua cura. Cirurgia, radioterapia, um monte de “ias”, um mês e meio quase inteirinhos dentro do hospital, tratamentos diários. Parecia que não acabaria jamais, que não existia outra vida além daquilo. E, de repente, fim. Da mesma forma como começou, acabou, sem aviso prévio. Fiquei órfã do tratamento, dos médicos, dos enfermeiros, todos sempre tão gentis. Estou quase me sentindo perdida. Que absurdo! Onde já se viu ficar perdida porque estou livre de algo tão ruim? Tenho mais é que comemorar, soltar rojão…

Resolvo que vou voltar à vida de antes, retomar minha antiga rotina, ser eu mesma. Como se a Ana dos últimos meses não fosse real. Percebo então que não dá, não posso apagar o que passei, penetrou na minha pele e é parte do que sou hoje. A Ana anterior a 15 de outubro é que já não existe. Foram míseros oito meses, mas parece muito mais. Eu mudei, assim como as pessoas ao meu redor, temos todos que reencontrar nosso eixo. Foram meses de incertezas e inconstâncias (será que existe essa palavra?), quando tudo era temporário e passageiro, mas muito concreto, acontecendo de verdade. Desde o cabelo que caiu até o mal estar físico, a aparência debilitada, o cansaço e a necessidade de ajuda.

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Pouco a pouco a vida retoma seu curso e vamos ver como será o nosso “normal”. Sim, porque a partir de agora tomo um comprimidinho diário de um remédio que, a julgar pela bula, pode ter uma montanha de efeitos colaterais. Sei que a gente não deve ler bulas de remédios, que elas assustam muito mais que o necessário, mas não resisti. E se acontecer comigo? É muito ruim! De dores articulares a ondas de calor a la menopausa, passando pela queda do que me resta de cabelo, qualquer coisa pode acontecer. Primeira coisa que faço é me informar com amigos e conhecidos que já passaram por isso. Não preciso me preocupar, dizem, os efeitos não são tão ruins assim. Mas, então, por que escrevem essas coisas? Parece até que é de propósito, só para assustar…

Percebo então que a guerra não chegou ao final. A luta contra o câncer não tem um ponto final, não acaba acabado. É um dia após o outro. Vou tomar remédios caros e chatos durante pelo menos cinco anos, farei consultas e exames trimestrais, depois semestrais, e por aí vai. Sempre torcendo para que o inimigo não resolva dar as caras. É muito, mas pouco se considerar tudo o que já foi e, principalmente, o que poderia ter sido.

E o que poderia ter sido? Tanta coisa, ou nada, difícil imaginar. Nem quero. Em momento algum me passou pela cabeça que o final não seria bom. Contudo, sendo realista, poderia ter sido bem diferente. E ainda pode. Só que não acredito.

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