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Vício: a doença da nossa era

A lista de compulsões não para de crescer em nossa sociedade. Os vícios mais comuns são de comida, jogos, compras, sexo, exercícios físicos, trabalho e pequenos furtos. Saiba como evitar essas dependências

Por Cristina Nabuco (colaboradora)
Atualizado em 27 out 2016, 23h31 - Publicado em 24 mar 2013, 22h00

Para dar a volta por cima, é necessário reconhecer o custo da dependência
Foto: Getty Images

Beber e se divertir em excesso, apostar alto, navegar na Internet, fazer sexo, comer e comprar além do necessário. A lista de compulsões não para de crescer em nossa sociedade, em que o prazer intenso e instantâneo é valorizado. Saiba como se proteger:

Sistema de recompensa

Passar horas no computador libera dopamina (um neurotransmissor) e ativa os mesmos circuitos cerebrais que as drogas. Esse neuro-hormônio que integra o sistema de recompensa estimula a repetição de ações vitais, como comer, fazer sexo e se abrigar do frio. O circuito media também outras relações com o prazer, como ouvir música e tomar uma taça de vinho. Certos casos acabam em dependência, segundo esta explicação: a dopamina faz com que se associe o estímulo externo (usar drogas, apostar em jogos, atacar a geladeira) a um bem-estar extremo. Predisposição genética, fatores socioculturais ou transtornos psiquiátricos podem levar à liberação do neurotransmissor em maior quantidade. Na repetição seguida do uso da substância psicoativa ou do comportamento, a ação da dopamina se esgota. A pessoa se sente mal e precisa recorrer com maior frequência ao estímulo externo para manter os níveis do neuro-hormônio no sistema.

Estudos confrontam a dependência química com a causada por apostas em cavalo, carteado, jogos virtuais, máquinas de bingo e caça-níqueis. Segundo o psiquiatra Hermano Tavares, coordenador do Ambulatório do Jogo do Instituto de Psiquiatria da USP, o sinal de que a atividade deixou de ser lazer para se tornar problema é jogar para recuperar o dinheiro gasto nas apostas anteriores ou para afogar as mágoas e aliviar as angústias. Essas justificativas são apresentadas, sobretudo, pelas mulheres, as principais vítimas entre os 4% da população brasileira que está envolvida com jogos.

Motivos semelhantes levam as mulheres a tentar resolver a solidão e o abandono por meio de compras compulsivas: 80% dos dependentes pertencem ao sexo feminino. “Abusos como estourar o cartão de crédito e adquirir supérfluos ocorrem quando estão mais deprimidas ou ansiosas”, diz Daniel Spritzer. Durante a compra, experimentam uma sensação de excitação semelhante à vivida pelos usuários de drogas. Apesar dos prejuízos financeiros e do arrependimento, elas não conseguem resistir ao novo impulso para gastar mais. Comprar uma coisinha qualquer é como o primeiro gole para o alcoólico.

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No caso da compulsão por exercício físico, a vigorexia, os rapazes são os protagonistas. Eles exageram nos treinos para ficar sarados, ignorando as advertências de treinadores. O sexo masculino também abusa mais do corpo e da mente no quesito trabalho. Para os workaholics, o trabalho assume tamanha importância que eles não conseguem estabelecer relacionamentos de qualidade, ir ao cinema, passear, viajar.

O peso da culpa

O descontrole e a culpa são características dos comportamentos compulsivos. Loucos por comida, por exemplo, apresentam pelo menos dois episódios de assalto à geladeira por semana. “Nada escapa, nem pratos congelados. Eles comem sozinhos, rapidamente, em grande quantidade, sem sentir fome”, descreve o psiquiatra Táki Cordás, coordenador-geral do Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria da USP. Depois, sentem-se culpados e podem adotar medidas drásticas para evitar ganho de peso, como provocar o vômito ou recorrer a laxantes e diuréticos, o que configura a bulimia nervosa.

O arrependimento é maior quando a compulsão se dá por ações mais condenadas socialmente, como a cleptomania (impulso para furtar objetos, geralmente de baixo valor) e a dependência de sexo (superexposição e seleção inadequada de parceiros). Esta última passa a ser a única forma de estabelecer contato humano.

Busca de ajuda

Para dar a volta por cima, é necessário reconhecer o custo da dependência (conflitos no trabalho, na família, rombos no orçamento), sem falar nas questões éticas, já que se mente para ocultar os excessos. O objetivo pode ser alcançado por meio de psicoterapia. Medicamentos são prescritos em casos severos de impulsividade; para alguns dependentes de álcool; e quando há depressão e transtornos psiquiátricos associados. A psiquiatra Maria Thereza de Aquino recomenda procurar auxílio especializado: “Ninguém se livra sozinho. É fundamental o apoio do outro para administrar o vazio interior e reconstituir a vida”.

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Características comuns

Nas dependências químicas ou comportamentais ocorrem:
    
Tolerância
Com o tempo, é preciso maior exposição para obter a mesma sensação prazerosa do início. No caso da bebida, aumentar as doses; no do jogo, subir o valor das apostas ou dedicar mais tempo à atividade.

Relevância
A droga – ou a ação compulsiva – passa a ser a coisa mais importante, fonte exclusiva de prazer.

Abstinência
Ao ser privada da substância química ou abandonar o comportamento, a pessoa sente irritação, inquietação, tremores, suor frio.

Recaída
Está ligada à vontade incontrolável de usar a droga ou de repetir o comportamento após a abstinência. Mesmo depois de uma ou mais recaídas, é possível superar a dependência.
 

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