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Quando os homens vão entender o real significado de divisão de tarefas?

Enquanto as mulheres assumem o papel de chefes da casa, eles precisam aceitar que precisam dar mais que uma "ajudinha"

Por Nathalia Cariatti (colaboradora)
Atualizado em 28 out 2016, 04h49 - Publicado em 29 abr 2016, 12h39

“Não é que meu marido não ajudasse. Mas não era uma coisa espontânea, eu precisava ficar em cima”, resume a publicitária Carla Alzamora, de Curitiba, sobre um dos motivos que teria azedado o seu casamento. Quando o parceiro perdeu o emprego e ela tornou-se a única responsável por colocar dinheiro em casa – e ainda precisava dar conta da rotina da família e do filho –, não suportou a pressão. “Eu me sentia culpada por fazer menos em casa e por acreditar que não me dedicava tanto ao trabalho. Ele, por outro lado, se dava por satisfeito por qualquer coisinha que fizesse para ajudar”, resume. 

 

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Famílias chefiadas por mulheres

Nos últimos 10 anos, cresceu o número de laser

Ana Mastrochirico e Gabriela Cestari
Ana Mastrochirico e Gabriela Cestari ()

 

Ana Mastrochirico e Gabriela Cestari
Ana Mastrochirico e Gabriela Cestari ()

Entre os anos 2000 e 2010, cresceu de 6,2% para 23,6% o número de famílias (formadas por casais com e sem filhos) sustentadas por mulheres, de acordo com o IBGE. Considerando também as famílias sem cônjuge, é uma mulher a principal responsável pelo sustento em 44% dos lares brasileiros. Vai na contramão a participação dos homens nas tarefas domésticas. Enquanto a responsabilidade de cuidar da casa e da família toma em média 3 horas e meia do dia de 90% das brasileiras, essas atividades são uma preocupação para apenas 51% dos homens – por, no máximo, uma hora e meia por dia. “A falta de compartilhamento dessas responsabilidades afeta negativamente o papel das mulheres no mercado de trabalho”, explica Tatao Godinho, secretária de políticas do trabalho e autonomia econômica das mulheres, da Secretaria de Políticas para as Mulheres do governo federal. Dê o play para ver a comparação: as responsabilidades domésticas tomam mais do que o dobro de tempo da rotina da mulheres do que na dos homens.

 

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Historicamente, foram os trabalhos domésticos a porta de entrada da mulher no mercado de trabalho. Lá atrás, em 1872, elas já representavam 45,5% da força de trabalho. A atuação feminina, no entanto, se restringia à roça e a cozinhar, lavar, passar, limpar e costurar. “Muitas vezes visto como menos importante, o trabalho de cuidar é essencial para o bem-estar e para o desenvolvimento de novas gerações. E acaba desvalorizado”, aponta Maria José Tonelli, coordenadora do Núcleo de Estudos em Organizações e Pessoas da Fundação Getúlio Vargas. O que leva a outra questão intragênero – as injustiças em relação às empregadas domésticas, que só neste ano passaram a ter direitos trabalhistas, como o pagamento do FGTS, reconhecidos.  

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UM MODELO DIFERENTE

O novo cenário exige rever expectativas e estereótipos, de ambos os lados. Em 2013, a jornalista americana Liza Mundy já apontava um cenário cada vez mais comum em seu país, no best Seller O Sexo Mais Rico (Editora Paralela): enquanto as mulheres assumiam a chefia das famílias, os maridos tornavam-se responsáveis pela rotina doméstica. Aqui, essa realidade já se desenha em muitos lares, como no de Lucia Mourão, 44 anos, casada há 17. Doutoranda em fonoaudiologia, ela sempre foi a principal provedora da casa, que tem Orlando, 54 anos, ator, e os filhos, de 12 e 9 anos. “O meu marido sempre trabalhou, mas dependia de oportunidades. Já eu tenho um vínculo com a universidade, uma fonte de renda garantida.” Há quase dois anos a família se mudou para os Estados Unidos para que ela pudesse empreender uma pesquisa que lhe conferisse o título de PhD. Para que a mudança fosse possível, a compreensão e colaboração de Orlando foi essencial: “Não temos empregada. Aqui ele cuida das crianças, da casa e também cozinha. Entre nós há um equilíbrio na divisão de responsabilidades”.

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Para a grande maioria dos homens, uma conjuntura assim, de inferioridade econômica em relação à mulher, faz com que se sintam desvalorizados. Em seu livro, Liza descreve a culpa e a cobrança que recai sobre eles, que pode se desdobrar em mágoa pelos avanços da parceira. Mais surpreendente, no entanto, é o preconceito que vem também das mulheres. Impossível culpá-las. Afinal, são produto de uma cultura tradicionalmente machista. “Muitos homens se ressentem quando a companheira ganha mais. Mas o que se vê, entre quatro paredes, é que para algumas mulheres não é fácil lidar com a situação”, lembra Maria José Tonelli.

A paraense Tatianna Avarena, 33 anos, precisou reconsiderar o arquétipo do homem-provedor ao se casar com o chileno Luis Andres, depois de 3 meses de namoro. O rapaz, 11 anos mais jovem, mal tinha se estabelecido no Brasil quando foram morar juntos. Tatianna, gerente de operações de uma multinacional, tornou-se a única fonte de renda do casal e teve de abrir mão de certos confortos. “Me questionava se eu não queria uma relação de igual pra igual”, desabafa. O marido também se sentia pouco à vontade deixando as contas apenas nas mãos dela. “Ele sentia que, sendo homem, deveria ser o responsável pelo nosso sustento”. Tatianna se esforçou para deixá-lo à vontade: criou uma conta conjunta e delegou o gerenciamento dos gastos da casa. Hoje, Luís trabalha e assumiu parte das despesas. Embora Tatianna ainda seja a principal provedora, para o casal já não importa quem põe mais dinheiro em casa.”Precisa haver parceria. Não tem isso de estar acima ou abaixo do outro. Isso não é importante.” 

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Curso Abril de Jornalismo 2016
Reportagem: Aline Takashima, Giovanna Maradei, Lola Almeida, Nathalia Cariatti, Thaís Varela
Arte: Ana Mastrochirico, Gabriela Cestari
Fotos e vídeos: Martim Passos
Agradecimentos: Edward Pimenta, Cristina Naumovs, Bruna Sanches, Doberman Filmes, Escola de Dados

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