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Hillary Clinton é mais que uma mãe e avó, presidente Obama

Nada contra mães e avós. Mas, ao concorrer ao cargo de Chefe de Estado da nação mais poderosa do mundo, Hillary merecia uma apresentação profissional.

Por Tatiana Schibuola
Atualizado em 8 nov 2016, 12h56 - Publicado em 8 nov 2016, 12h52

“Peço que elejam essa mãe, essa avó, essa patriota, Hillary Clinton!”, disse o presidente americano Barack Obama, ao introduzir a candidata à sua sucessão pelo partido democrata, Hillary Clinton, no evento final da campanha democrata, em Filadélfia, nos Estados Unidos.

Adoraria saber como Hillary Clinton conciliou a maternidade com sua carreira. E como exerce o papel de avó em meio a uma rotina tão atribulada. Mas me sentiria muito mais inclinada a ouvir o seu discurso se ela tivesse sido apresentada com base em seu extenso currículo: “Peço que elejam essa advogada, essa professora de direito e ativista. Ex-primeira-dama dos Estados Unidos, ex-senadora pelo estado de Nova York, ex-secretária de Estado. Essa mãe e avó.” Afinal, ela concorre ao cargo de chefe de estado da nação mais poderosa e influente do mundo.

“O uso de rótulos sociais tende a ser particularmente forte quando faltam aos eleitores outros elementos para avaliar os candidatos”, disse Elsa Chaney, membro programa Mulheres e Desenvolvimento Internacional e professora de antropologia da Universidade de Iowa. Com as mulheres, isso é ainda mais comum. Assim o fez o ex-presidente Lula, ao apresentar a então desconhecida Dilma Roussef, nomeando-a mãe do PAC.

Infelizmente, decidir-se por um candidato em eleições dificilmente é algo racional. Por mais que se tente obter todas as informações sobre ele, seu programa de governo, há sempre algo que nos escapa à compreensão. Sabemos que as mentiras políticas são parte do establishment, em qualquer lugar do mundo. “Haverá recursos para cumprir todas essas promessas?”, “De onde vem tanto dinheiro para esta campanha?”, “Que tipo de promessa o partido desse candidato precisa fazer para conquistar legendas aliadas?”. Daí que nos apegamos aos valores. E, quase sempre, seguimos a emoção em nossas escolhas políticas.

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No início de outubro, estive nos Estados Unidos, no estado da Califórnia, para uma semana rápida de férias. Exceto por plaquinhas favoráveis a candidatos locais, não percebi nenhuma manifestação mais quente em favor de Trump ou de Hillary. Na praia, puxei conversa com uma mulher que, como eu, assistia à sua filha caçula surfar. Perguntei se era favorável a algum dos candidatos. Ela torceu o nariz. Disse que nenhum dos dois era bom para os Estados Unidos.

Argumentei que Trump era um desastre: homofóbico, xenófobo, misógino. Para ela, perfil de americana média, branca, professora do ensino médio, mãe de 5 filhos, tanto fazia. “Não se pode confiar nos Clinton”, me disse. Jurou que Bill Clinton sofreu impeachment. “Tem certeza?” – perguntei. Ela assentiu. (Ele foi formalmente acusado de perjúrio e obstrução de justiça, por conta do caso extraconjugal com Monica Lewinsky e uma acusação de assédio sexual contra Paula Jones, mas acabou absolvido pelo Senado. Terminou o segundo mandato).

Ela também não fazia a menor ideia que a presidente do Brasil havia acabado de sofrer um impeachment. E talvez estivesse se referindo às trocas de e-mails de Hillary com informações confidenciais em servidores não protegidos (sua conta de e-mail pessoal) que, até anteontem, estavam sob investigação pelo FBI. (Sem querer minimizar a gravidade do delito, fico só imaginando o que aconteceria por lá se estivesse minimamente ligada a escândalos como o Petrolão.)

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Posso estar sendo leviana, mas imagino que esse seja o perfil médio do eleitor americano. E isso talvez explique a ascensão de Trump que, com seus muros (seja o que vai exigir que o México construa, ou os imaginários, que vão barrar imigrantes, refugiados ou os produtos chineses), dá aos estadunidenses a confortante impressão de que as coisas vão ficar como estão. Ou, ainda, voltarão a um tempo de prosperidade que não existe mais, bagunçado pela nova ordem mundial: líquida, sem fronteiras e que finalmente entende as atrocidades cometidas contra minorias e povos oprimidos e tenta corrigi-las.

E talvez seja para despertar a atenção desse eleitor, menos propenso a lutar por bandeiras, mais afeito a cuidar de seu próprio quintal, que Obama (justo ele, o primeiro presidente negro dos Estados Unidos, que, ao lado de Michelle, defendeu com força as mulheres) limitou Hillary aos papeis de mãe e avó. Não a vejo como a candidata perfeita: ao longo de sua trajetória, cometeu muitos erros, como o de lutar contra o casamento gay, para depois oficializá-lo; assume posições sempre favoráveis à guerra, como a do Iraque que, sabemos, não ajudou o país a construir uma democracia; e, de alguma forma, representa a velha política. Ainda assim, parece ser a opção mais sensata para este momento.

Primeiro, porque seu adversário é Trump. Depois, sim, por ser mulher – e portanto sensível às questões tão urgentes do feminino. E ainda porque seu mandato representa continuidade ao governo de Obama que, em face das duas opções à mesa, alcança a maior popularidade de seus oito anos: 56% de aprovação. Por fim porque, embora o Brasil não esteja necessariamente na pauta de prioridades dos americanos, certamente a política externa adotada por ela nos será mais aberta e favorável.

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