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Por Olho da rua
Coluna da atriz, bailarina, diretora, roteirista, compositora, poeta, cozinheira madrasta e vocalista da banda Fábrica de Animais Fernanda D'Umbra
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Pelo direito de andar sozinha na rua

Estar só, andar pelas ruas à noite apenas sentindo o vento no rosto é uma delícia. Um direito que a violência e o medo não podem nos roubar

Por Fernanda D'Umbra Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
27 mar 2017, 19h57

Volto do trabalho a pé, de madrugada. Chego ainda maquiada, cabelo meio despenteado, e cumprimento o porteiro, que demorou a entender que isso é normal. Estar só, andar pelas ruas à noite apenas sentindo o vento no rosto é uma delícia. Um direito que a violência e o medo não podem nos roubar.

Saí de casa ainda menor de idade. Foi minha mãe quem me levou à rodoviária, me deu sua bênção e disse que estaria sempre lá. Nunca mais voltei e nós duas sabíamos que seria assim. Morei sozinha durante muitos anos e sempre achei que era um direito meu. Lutei por ele, inclusive.

Muitas vezes erro em minhas decisões solitárias, mas decidir é se equivocar também. E depois corrigir. Às vezes não dá. O erro fica gravado na gente e molda nosso caráter. Somos feitas das nossas roubadas também.

A solitude é de uma beleza ainda desconhecida. Assusta um pouco de tão deslumbrante que é. Gostar de estar só e aprender a fazer isso é um privilégio. Diria mais, é um poder, que traz o maior dos prazeres: a liberdade. Irmãs gêmeas, a solitude e a liberdade. Só não são a mesma coisa porque é possível ser livre e estar acompanhada simultaneamente.

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Quando vêm à baila assuntos como o medo de estar só e de caminhar sozinha pelas ruas, penso que é muito mais do que a segurança que está em jogo. Está em jogo a liberdade. O direito de estar consigo mesma e se permitir o silêncio, os pensamentos desconexos, as horas gastas com nada. E como é fundamental esse “nada”! Essa paz que a solitude carrega.

Sozinha você pode ver coisas que, em companhia de alguém, não conseguiria. Ler livros e ver filmes que dizem respeito a você e a mais ninguém. Não podemos viver sem essa possibilidade. O silêncio, a liberdade, a calma, o autoconhecimento, a autoestima, os papos que você trava consigo mesma e as conclusões poderosas a que chega quando está só são muito preciosas. Nada pode nos tirar isso.

A solitude mostra todos os dias que nada de fato me pertence e que meu amor nunca esteve ligado à obrigação. Eu amo porque acho fácil. E nem passa por minha cabeça odiar, porque isso, sim, eu acho bem complicado. Sinto saudade de tudo o que amo porque me afasto, mesmo estando na mesma cidade. Tenho momentos sagrados que são apenas meus e, portanto, incompartilháveis.

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Às vezes a felicidade é tanta que sinto até culpa. Eu gosto muito de fazer várias coisas sozinha. E não abro mão desse espaço. Comprar roupas, ficar durante horas em um loja de histórias em quadrinhos (as famosas gibiterias, cada vez mais raras), visitar bibliotecas e não conversar sobre tudo o que vi ou li. Há coisas que são apenas minhas, o que é bom.

O mundo é imenso e cada uma de nós tem seus amores e seus amigos, para quem podemos contar como é bom estar só. Tenho amigas que não conseguem ficar sozinhas, confundem solitude com solidão. Nada mais injusto.

O amor que temos pelos outros devemos ter por nós também. E, sempre que estamos sós, estamos com alguém que a cada dia tenta ser mais legal. Alguém que a gente tem que tratar com amor, carinho e lutar por sua liberdade. A mulher que eu sou passeia por aí. Não quer agredir, tampouco ser agredida. Só quer ficar sozinha de vez em quando. E isso é normal.

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